segunda-feira, 24 de março de 2014

Triálogo entre C. S. Lewis, Tomás de Aquino e Martinho Lutero (Peter Kreeft)


A Cena: C. S. LEWIS ESTÁ SENTADO SOZINHO, tarde da noite, em sua grande mesa de carvalho em The Kilns, Oxford. Está escrevendo Cristianismo Puro e Simples, sua pequena obra-prima destinada a iluminar milhões de mentes e a auxiliar na conversão de incontáveis almas. Tudo já está escrito, exceto a introdução. (Bons escritores, geralmente, atrasam suas introduções por uma excelente razão: têm de saber, primeiro, o que há de ser introduzido.) Lewis, de repente, fica ereto: assustara-se. Ele parece ver dois visitantes em seu quarto. Esfrega os olhos, mas os dois não desaparecem. Um deles é um frade dominicano um tanto largo e gordo, vestindo um robe branco e tonsurado, aparentemente, numa síncope de abstração distraída. O outro é um monge agostiniano vestindo um robe preto e, apenas, um pouco menos, formidavelmente, gordo, ventilando seu traseiro com o robe. Aparentemente, acabara de soltar gases. Ele murmura: “Quando peido em Wittenburg, o Papa sente o cheiro em Roma.”. O primeiro pensamento de Lewis é que há, aqui, quatro possibilidades: estas duas criaturas vieram ou do Céu, ou do Inferno, ou do Purgatório, ou, então, diretamente, de Central Casting. De repente, pensa numa quinta possibilidade muito mais provável: eles vêm de sua própria imaginação. Jamais, há de resolver esta questão em sua mente com certeza, embora a conversa com os dois seja tão vivaz a fim de tornar a quinta possibilidade um tanto improvável. Eles falam Inglês, mas com carregados sotaques. Lewis não pode deixar de associar o sotaque do Dominicano com a máfia e o do Agostiniano com a Gestapo. Por meio de um esforço da vontade e da caridade, ele exorciza esses pensamentos e é recompensado pela providência divina, visto que as duas figuras não desaparecem, mas começam a falar. 

LUTERO: Que estás a escrever aí, Irmão Jack? 

LEWIS: Você é… o Irmão Lutero? 

LUTERO: Este teu hábito de responderes a uma pergunta com outra pergunta — tu és um rabino, ou psiquiatra? Lewis (rindo): nenhum dos dois. Somente, um escritor. Estou, apenas, dando uns toques finais em algumas entrevistas que dei na BBC para publicá-las, ou penso que estou pelo menos. Ao ver vocês dois aí, não estou mais tão certo assim do que é real. 

AQUINO: Somos reais, asseguro-te, e somos privilegiados em conhecê-lo, pois tu realizas a mesma e honrosa tarefa que realizamos outrora.

LUTERO: Estamos aqui para ajudar-te a terminar teu livro, o título e a introdução, e para assegurá-lo de que estas poucas páginas serão uma poderosa arma nas mãos do Espírito. 

LEWIS: Estou honrado, e intrigado.

AQUINO: Estamos aqui, também, para fazer-te algumas perguntas. 

LUTERO: Sobre este teu livro, especialmente o título, estás pensando em tomar emprestada a frase de Baxter: “Cristianismo Puro e Simples”? Ora, que queres dizer com isto?

LEWIS: Se já sabes tanto sobre minha mente, deves saber a resposta. 

AQUINO: Sobre tua mente, sabemos apenas aquilo que Deus permite-nos saber, mas, mesmo se soubéssemos tudo que está em tua mente, você não o sabe. Não ainda. Fomos enviados para questioná-lo a fim de que você mesmo possa sabê-lo melhor, assim como Deus enviou Seu anjo a Jó munido de perguntas, não respostas. Tudo isto pela mesma razão: Deus é socrático. 

LUTERO: Falando claramente, é este teu “Cristianismo Puro e Simples” algum tipo de alternativa ao Protestantismo ou ao Catolicismo? Esta é uma maneira de evitar esta escolha? É algum Anglicanismo anônimo? Uma via media? 

AQUINO: Sabemos bem, Irmão Jack, que o Catolicismo Romano é o único assunto que tu não discutes, nem mesmo com teus amigos. Por quê? 

LEWIS: Tantas perguntas difíceis! Irmãos, como Deus sabe, a única razão que tenho — ou, honestamente, penso que tenho — para não discutir esta rixa entre as igrejas é vergonha. Envergonho-me desta rixa, como um sujo escândalo familiar: é uma ferida pública no Corpo de Cristo, uma ferida vergonhosa, não uma daquelas feridas santificadas e gloriosas, como as feridas dos mártires, ou a ferida que o hesitante Tomé foi convidado a tocar. Oro, diariamente, por sua cura. Também, não tenho falado, nem escrito, sobre isto, publicamente, pois julgo que nosso Senhor assim o deseja. Penso que Ele, deliberadamente, colocou-me aqui, bem no centro da linha de batalha onde a necessidade de defesa é a maior, mas seus defensores, poucos. Talvez Ele tenha enviado outros a avançados campos teológicos a fim de conquistar novos territórios, mas enviou-me para defender os fundamentos. Esta é a razão pela qual dei estas entrevistas no rádio e, agora, escrevo este livro.

AQUINO: Teus motivos são honestos e santos, mas talvez não haja aí também um certo medo de encarar face a face a escolha e  de encarar as inflexíveis reivindicações da Igreja de maneira igualmente inflexível, como de fato encaraste as inflexíveis reivindicações de Cristo? Defendes bem o antigo argumento sobre Ele: Cristo era “ou Deus ou um homem mal”, mas jamais apenas um homem bom. Que tens a dizer sobre o argumento paralelo sobre as reivindicações da Igreja Católica? Ela reivindica singularidade e infalibilidade como nenhuma outra Igreja faz. Está, neste ponto, certa ou errada. Se estiver certa, está muito certa e é nosso dever ajoelharmo-nos perante ela, entrarmos nela e servirmos a ela como o corpo visível de Cristo na Terra. 

LUTERO: Se estiver errada, ela não estará, apenas, muito errada, mas se mostrará, intoleravelmente, arrogante, até mesmo blasfema, e é teu dever expô-la e opores-te a ela com todo teu coração e, pela mesma razão, por amor ao nosso Senhor. 

LEWIS: Não sei como responder.

AQUINO: Ao permanecer fora da Igreja Católica, já respondeste. 

LEWIS: Minha razão é movida pelos argumentos católicos, mas, também, por alguns dos argumentos anticatólicos. Porém, meus sentimentos e instintos são aqueles dum filho de Ulster. Certamente, vocês dois podem dizer-me toda a verdade? Qual de vocês estava errado? Certamente, não estarão relutantes em admitir seus erros agora?

LUTERO: Não nos é permitido dizer-te coisas que apenas os abençoados nos Céus conhecem, Irmão Jack.

AQUINO: Fomos enviados para ensinar-te algo, não te contar algo. Talvez possamos ajudá-lo a encontrar a verdade por si mesmo. 

LEWIS: Agradeço por qualquer ajuda que possam dar-me. Como? 

LUTERO: Defenderemos nossos respectivos credos assim como o fizemos na terra, sem corrigirmos nenhum de nossos erros. Se o Irmão Tomás for, agora, um protestante, ou até mesmo um luterano, esconderá tal fato e se eu for agora um católico romano, ou até mesmo um tomista, esconderei tal fato. Agora, cinja os lombos de tua mente, irmão Jack. 

LEWIS: Se tudo que será dito aqui é aquilo que já disseram na terra, e que eu já sei, como hei de saber que vocês não são meu próprio inconsciente? 

LUTERO: Isto, também, tu não saberás.

LEWIS: Em nome, contudo, da própria Verdade, irmãos, declaro-lhes que meu desejo de conhecer a verdade sobre as reivindicações das diversas igrejas não é mera curiosidade ociosa. Meu coração bate com selvageria desejoso de conhecer a verdade para que minha pena possa dela servir-se. Não haverá Deus de honrar este motivo? 

AQUINO: Ele irá, mas em Seu tempo e de Sua maneira.

LUTERO: Veja bem, em Sua providência, Ele sabe que não poderia cumprir Seu plano de batalha para ti tão bem se tu soubesses estas coisas. Não poderias ter escrito este livro para começar. Estas páginas teriam sido diferentes, endereçadas a apenas uma parte da cristandade. 

LEWIS: Entendo. 

LUTERO: Diga-me: este teu “Cristianismo Puro e Simples” é um credo alternativo àqueles de Augsburgo ou Trento? 

LEWIS: Não. Ele é o Credo dos Apóstolos, o fundamento de ambos. Minha esperança é que um retorno ao fundamento comum possa ajudar a curar a ferida e a solucionar a divisão.

AQUINO: Bom, mas como este “Cristianismo Puro e Simples” relaciona-se com as igrejas? 

LEWIS: Assim como uma sala de entrada relaciona-se com os quartos que a ela abrem-se. Uma sala de entrada não é lugar para viver-se. Toda a comida e calor, camas e mesas estão nos quartos. É um lugar de entrada, não de chegada. 

LUTERO: Muito bem. Ponha este pensamento em teu livro. Deixe isto claro, já na introdução, para que não dividas, ainda mais, a Igreja e cries outra denominação: a “Simpl-ismo.”, pois, de outra maneira, teus leitores serão tentados a lidarem com suas dúvidas permanecendo na sala de entrada.

LEWIS: Oh, duvido que as pessoas seriam, assim, tão tolas.

LUTERO: Estás errado. A grande tentação será fazer, justamente, isto. Será, até mesmo, um tipo de boa tentação. 

LEWIS: Não entendo. 

LUTERO: É-me permitido revelar este tanto do futuro. Em breve, os cristãos serão forçados a unirem-se contra um inimigo comum.

LEWIS: Por que a necessidade há de ser tão grande? Como o Diabo baterá à porta? 

LUTERO: Antes que teu século termine, o mundo há de afundar-se de maneira tão espetacular na decadência que blasfêmias e pornografias, como jamais imaginaste, serão protegidas por lei e as mais inocentes e inofensivas piedades públicas proibidas, tais como as orações nas escolas. Os Dez Mandamentos serão arrancados de todos os locais públicos e, em seu lugar, serão colocadas obras de arte homoeróticas e sadomasoquistas mais ruidosas que tua negra juventude jamais concebeu. O governo dará fundos para a exibição de Cristo em uma jarra da urina de certo artista (não posso, nem mesmo, proferir o título blasfemo desta abominação de desolação). Todos os anos, milhões de mães serão persuadidas a matar seus filhos e filhas ainda em seus úteros. Um terço de todos os bebês concebidos será abortado. A lei há de remover toda a proteção sobre estes santos inocentes e a mídia fará sua parte por meio da censura e da mentira. A mais temida doença sexualmente transmissível serão as crianças. Metade de todos os casamentos falhará. Nas grandes cidades, a maioria das crianças será constituída de filhos ilegítimos. Os pais perderão o controle sobre seus filhos de maneira lenta, mas firme. A virgindade transformar-se-á num estigma e raridade e a fornicação, na norma. As escolas públicas confiscarão Bíblias e distribuirão camisinhas. Propaganda descarada sobre masturbação, fornicação, contracepção, aborto e sodomia será disfarçada sob o nome de “educação sexual” e forçada pela goela abaixo em crianças pré-púberes… 

LEWIS: (seus olhos arregalando-se a cada detalhe) Isto é incrível até mesmo para um Puddleglum como eu. Quer dizer que todas estas coisas terríveis acontecerão na Rússia?

LUTERO: Não. As orações de três quartos dum século na Rússia serão respondidas. O demônio comunista morrerá no Kremlin. As escolas públicas na Rússia hão de implorar por Bíblias, até mesmo quando Escolas americanas proibirem-nas. 

LEWIS: Isto é, realmente, incrível — muito além de meus mais desvairados sonhos. Por que está dizendo-me isto?

LUTERO: Para que entendas por que teu livro há de ajudar, cristãos de todas as igrejas serão forjados juntos pelo fogo, como os cacos quebrados duma espada. Católicos e protestantes, às centenas, serão lançados juntos nas prisões por protestarem contra o holocausto de bebês a Moloque. Daí, a “boa tentação” da qual falei, a tentação de abandonar os quartos pela sala de entrada. Certifica-te de avisá-los para este perigo. 

LEWIS: Obrigado, Irmão Lutero, com certeza fá-lo-ei. 

AQUINO: Tenho outra pergunta sobre o “Cristianismo Puro e Simples,” Irmão Jack. Se ele é o Credo dos Apóstolos, como você diz, é constituído de apenas 12 proposições? É uma abstração dos credos mais completos de todas as igrejas, como um tipo de mínimo denominador comum de credos? É ele um universal abstraído de seus particulares? Neste caso, seria uma sala de entrada teológica em vez de um quarto. Por outro lado, se é concreto, e não abstrato, isto não o faria uma outra igreja, um quarto rival ao católico e protestante? 

LEWIS: Este é um dilema terrível, mas penso poder escapar pelas entrelinhas. Ele não é nenhum dos dois: é o Evangelho. Isto é, concreto, não abstrato: algo sólido e substancial. Aquilo compartilhado por protestantes e por católicos é algo concreto: é o próprio Cristo e a fé Nele. Certamente, sabermos se Cristo é divino e se, de fato, ressuscitou dentre os mortos é mais importante do que sabermos se o Papa é infalível ou não. Certamente, assegurarmo-nos de que Cristo é nosso Senhor é algo mais importante do que nos assegurarmos de que Maria foi concebida de maneira imaculada.

AQUINO: Sim, mas dizer que uma coisa é maior que a outra não é dizer que esta última não é grande. Anjos são maiores que homens, o amor é maior que o conhecimento e Cristo é maior que seus santos. Não obstante, todas estas coisas secundárias são muito grandes. 

LEWIS: Verdade, Irmão Tomás, mas preciso descobrir, exatamente, quão grandes ou importantes são as doutrinas distintamente católicas. Todas as doutrinas católicas que o Irmão Martinho rejeitou foram doutrinas que ele não foi capaz de encontrar, claramente, nas Escrituras — estas são essenciais ou acidentais? Se forem acidentais, então, o “Cristianismo Puro e Simples” é o único essencial e equivale ao Protestantismo. Se forem essenciais, então, o “Cristianismo Puro e Simples” é uma mera abstração.

AQUINO: Agora, escapo dos chifres de teu dilema. Existem três possibilidades, não duas: a essência, um simples acidente ou uma propriedade essencial (ou acidente apropriado). A divindade e ressurreição de nosso Senhor são essências. Se alguém as negar, ele, simplesmente, não é um cristão. Latim na liturgia e jejum nas sextas são acidentes mutáveis, mas a autoridade da única Igreja visível e a presença real de nosso Senhor na Eucaristia não são acidentes, mas sim propriedades da essência. Elas fluem da essência, embora não sejam a essência. Portanto, a disputa não se dá nem sobre a essência nem sobre os acidentes, mas sim sobre as propriedades. Cristão algum discordaria da grande fórmula de Agostinho: “Nos essenciais, unidade; nos não essenciais, diversidade; em todas as coisas, caridade.”, mas nossa disputa deu-se entre as propriedades dos “essenciais”. Esta é a razão pela qual não alcançamos a unidade. 

LUTERO: O mesmo que tu dizes sobre a Igreja digo eu sobre a Sola Scriptura, a Sola Fide e a Sola Gratia: estas são propriedades essenciais. 

LEWIS: Isto torna, então, a noção de um “Cristianismo Puro e Simples” problemática, pois um católico jamais diria que o Catolicismo é o “Cristianismo Puro e Simples” mais a Igreja e um luterano jamais diria que o Luteranismo é o “Cristianismo Puro e Simples” mais a Justificação pela Fé apenas, pois estes não são acidentes, mas, sim, propriedades essenciais e um de vocês, parece-me, está errado quanto a estas propriedades essenciais. Estes erros são, de fato, extremamente, sérios.

AQUINO: Teu “Cristianismo Puro e Simples” não pode ser mais um “Cristianismo-mais” nem um “Cristianismo-menos”. Tu não deves adicionar nem subtrair, muito menos criar “outro Evangelho”, um novo Cristianismo que se oporia ao “Cristianismo Puro e Simples”. 

LEWIS: Irmãos, um de vocês, no entanto, deve ter feito, justamente, isto: ou o Irmão Martinho subtraiu o Catolicismo do Cristianismo ou a Igreja Católica adicionou-lhe algo. Portanto, a disputa é sobre o que este “Cristianismo Puro e Simples” é de fato. Sendo assim, a fim de evitar que esta disputa apareça em meu livro, devo lançar mão de uma série de proposições aceitas por ambos os lados — essencialmente, o Credo Apostólico — como um denominador mínimo comum, assim, parece-me.   

LUTERO: Certifica-te de que teu livro esteja centrado em Cristo. O propósito de cada sílaba que escreveres deve ser o mesmo propósito de cada pedra sustentando cada igreja e de cada moeda em cada um dos pratos de coleta: salvar almas perdidas para Cristo. 

AQUINO: E santificá-las. 

LUTERO: E não as direcionar para disputas sobre a relação entre a justificação e a santificação, nem ao Cristianismo católico, nem ao Cristianismo luterano, nem ao “Cristianismo Puro e Simples” como uma abstração, mas sim à pessoa concreta de Cristo. 

LEWIS: Deveras, esforçar-me-ei por ser, ubiquamente, cristocêntrico, mas você quer dizer que os credos não contam? 

LUTERO: Certamente, não, but the creed is for the deed.

LEWIS: Que coisa estranha para você dizer! Você quer dizer que a fé é para obras?

LUTERO: Não, quero dizer que tu deves direcionar as mentes de teus leitores para Cristo a fim de que seus corações, também, para lá se direcionem. Falo da obra da fé.

AQUINO: Teu propósito está claro, agora, Irmão Jack? 

LEWIS: Está. Agradeço-lhes, mas não posso perder a oportunidade de tentar clarear estas propriedades sobre as quais vocês disputaram. Vocês dois, claramente, possuem a mesma religião, mas teologias diferentes. Se não podem dizer-me, diretamente, o que é verdadeiro e o que é falso, teologicamente, ensinar-me-iam de outra maneira? 

LUTERO: Sim. Isto é parte de nossa tarefa aqui e,em virtude disto, argumentaremos assim como o fizemos na Terra. 

AQUINO: Teremos algo duma disputa escolástica, um debate curto, formal e lógico. Assim, que comecem os jogos. Interpretaremos, nós mesmos, como éramos. Irmão Martinho, enquanto aquele que protesta, há de começar. Seremos controversos, mas amigáveis — até mesmo brincalhões — enquanto interpretamos estes antigos papéis, agora, totalmente, livres dos antigos sentimentos de ódio e de medo. Engajaremo-nos em polêmicas, mas de uma maneira não polêmica, como se atuássemos — atuação séria, mas uma da qual podemos distinguir-nos, como os polemistas do passado não poderiam.

LUTERO: Começo, então, questionando a noção mesma de um “Cristianismo Puro e Simples” comum a ambas as igrejas. Concedo: Cristo é-nos comum, pois viemos do Céu e não do Inferno, mas não há qualquer fundamento comum a nossas duas igrejas. Os católicos devem dizer que as igrejas protestantes são heréticas e cismáticas e eu digo que a Igreja Católica Romana é apóstata, pois prega Escrituras diferentes, uma salvação diferente e uma diferente soberania. Escrituras diferentes, pois adicionaram as tradições humanas à Palavra de Deus. Uma salvação diferente, pois substitui a salvação pela fé pela salvação pelas obras e uma soberania diferente, a soberania do, assim, chamado livre-arbítrio, em vez da soberania de Deus e da Sua graça. Minhas três fórmulas são escudos contra estes três mortíferos e horrendos dardos do erro: Sola Scriptura contra a reivindicação da Igreja que adiciona uma segunda Escritura; Sola Fide contra as reivindicações das boas obras que adicionam uma segunda salvação e Sola Gratia contra as reivindicações do livre-arbítrio, que adicionam uma segunda soberania à soberania de Deus. Em primeiro lugar, Sola Scriptura. Todas as nossas diferenças começam aqui, na epistemologia. A razão pela qual rejeito todas as doutrinas católicas é que não as encontro nas Escrituras. Sola Scriptura é minha chave-mestra. Hei de entrar em quaisquer portas doutrinárias que esta chave abra; em quaisquer portas que ela não abra, eu não entrarei. Agora, Irmão Jack, se tu, também, em teu livro, confinares-te aos ensinamentos encontrados nas Escrituras, então, teu livro “Cristianismo Puro e Simples” será apenas outro nome para Protestantismo. Segundo, Sola Fide. A Igreja Católica prega outro Evangelho, pois os livros de Romanos e de Gálatas, claramente, ensinam que o homem é justificado pela fé somente, sem as obras da lei. Aqui, os católicos não apenas adicionam às Escrituras, eles contradizem-na — e na questão mais importante do mundo: o que devo fazer para ser salvo? Os católicos, simplesmente, não sabem como chegar ao Céu! Têm nas mãos um mapa todo errado. Se alguns deles alcançam o Céu, como tu, Irmão Tomás, isto não se dá em virtude de seus mapas, mas, sim, a despeito deles. Nosso Senhor disse: “Pelos seus frutos, conhecê-los-ei”. Podemos observar os miseráveis e escassos frutos da árvore católica e julgarmos se esta é, ou não, a Árvore da Vida. Se perguntássemos ao homem que, agora, escreve este diálogo — sujeito que é professor num dos maiores e mais famosos colégios católicos de sua época em Boston —, quantos de seus estudantes mencionariam o nome de Cristo quando, por meio de textos ou questionários, fossem interpelados sobre o que haveriam de dizer quando, por ocasião de sua morte, Deus perguntasse-lhes por que deveria deixá-los entrar no Céu, este professor haveria de dizer-nos que apenas um, dentre cinqüenta destes, mencionaria o nome de Cristo. Como esta poderia ser a Igreja de Cristo se sequer reconhece o Cordeiro de Deus como seu Salvador? Terceiro, Sola Gratia. A Teologia católica é metade cristã e metade pagã, ou humanista, pois dá ao homem o papel de permitir ou não que a graça de Deus opere — o papel de cooperar, livremente, em sua própria salvação. A venda de indulgências foi apenas um exemplo espetacular deste mais profundo princípio. O princípio é aquele do Paganismo: barganhando com a deidade. É com os deuses pagãos que podemos fazer contratos; o Deus de Abrãao, de Isaque e de Jacó é soberano. É o homem pagão que, com orgulho, considera sua própria volição como algo soberano e livre; o homem cristão sabe que sua vontade está cativa, pois ele é um pecador, e todo pecador é um escravo do pecado, e pode ser salvo apenas pela graça de Deus. É tua vez, agora, Irmão Tomás, de obscurecer minhas simples declarações escriturísticas com suas sutilezas e sofismas escolásticos. 

AQUINO: Responder-te-ei de maneira tão clara e direta quanto apresentaste tuas objeções e em tempo. Igualmente, curto. 

LUTERO: Se eu fosse um apostador, apostaria metade de minha fortuna que tu não vais fazer isto. Não conseguirás nem mesmo igualar meu tempo. Tu és gordo e lento e eu corro muito mais rápido que ti. 

AQUINO: Apenas à latrina, não ao papel. Meu estilo era mais condensado que o teu, Irmão Martinho.

LUTERO: Se estás, com indecência, implicando uma condição de diarréia intelectual de minha parte, respondo que, ao constipado, o normal parece sofrer de diarréia. 

AQUINO: Estamos a disputar quem é o mais analítico ou estamos disputando ad rem?

LUTERO: Estou apenas apostando que tu não consegues bater meu tempo. Vós, italianos, jamais acreditastes, de fato, no tempo. Apenas um homem jamais fizera seus trens andarem no tempo — Mussolini — e isto foi louvado como um milagre. 

AQUINO: Não fosse esta inaptidão italiana com relógios, teu compatriota, um tal Adolf Hitler, que tinha Mussolini como seu aliado, não teria sido forçado a atrasar sua campanha na Rússia até ter resgatado a ridícula, e fracassada, invasão de Mussolini na Iugoslávia e teria, assim, conquistado Moscou, Stalingrado, e Leningrado e, portanto, a Rússia, portanto, a guerra e, portanto, o mundo. Desta feita, o mundo foi salvo pela inépcia italiana com o tempo! 

LUTERO: Qual é o ponto desta nova teoria da história, Irmão Tomás? Quem está falhando em argumentar ad rem agora?

AQUINO: O ponto é que, simplesmente, eu sou capaz de condensar meus argumentos muito mais do que tu és, Irmão Martinho.

LUTERO: Realmente? Quantas páginas teu pequeno Sumário de Teologia tem? Tu disseste na Introdução que ela destinava-se a “iniciantes.” Quase 6.000 páginas, correto? E tu nem mesmo o terminaste! 

AQUINO: Não pude. À luz da visão que tive, tudo que dissera, até então, era, apenas, palha.

LUTERO: Ora, nisto acertaste pelo menos.

AQUINO: Não foi, exatamente, disto que tu chamaste a epístola de Tiago? Antes chamar minhas próprias palavras de palha do que as alheias e, certamente, melhor chamar de palha as palavras humanas do que as de Deus! — no momento em que Lutero pega um tinteiro para lançá-lo na cabeça de Aquino (numa brincadeira, claro, pois, afinal de contas, eles vieram do Céu, onde inventaram o brincar), Lewis interrompe-os:

LEWIS: Irmãos, este é o tipo de disputa escolástica praticada no Céu? Por favor, lutem apenas com um tinteiro destilado em palavras. 

LUTERO: Ahá! O Irmão Jack é adepto dos trocadilhos, assim como eu — um tanto diferente daquele pesado literalismo que pende de suas mãos, Irmão Tomás.

AQUINO: Literalismo? Moi? Jamais ouvistes falar de minha doutrina da analogia? Até mesmo a palavra “ser” é um trocadilho em minha filosofia.

LEWIS: Divirto-me, mas não aprendo, senhores. Irmão Tomás, tu hás de fazer tua habitação no tempo ou podes responder às três acusações feitas pelo Irmão Martinho?

AQUINO: Fico feliz em respondê-las. Em primeiro lugar, a maioria de nossas diferenças teológicas está, de fato, enraizada na epistemologia da Sola Scriptura. Não digo todas, pois algumas se encontram enraizadas em nossa metafísica. Teu nominalismo é a raiz de tua teoria “federal” da justificação por exemplo. Eu nego a Sola Scriptura, pois ela é autocontraditória. As Escrituras, somente, não ensinam "somente as Escrituras”. A Sola Scriptura é uma teologia humana — a tua — adicionada às Escrituras. Segundo, as Escrituras concedem o título de “coluna e firmeza da verdade” não a si mesma, mas, sim, à Igreja. 
Terceiro, tu compreendes mal as reivindicações católicas para a Igreja. Ela não é uma segunda fonte da verdade, separada e rival, um segundo livro, um segundo dado. Ela ensina, interpreta, protege e defende seu dado original, “o depósito da fé”, que é, virtualmente, idêntico com as Escrituras. Ela é um (e apenas um) professor vivo, com um (e apenas um) livro vivo. Quarto, as consequências inevitáveis da Sola Scriptura na história têm sido infindáveis dissensões e denominacionalismo — justamente, aquela coisa contra qual as próprias Escrituras, freqüentemente, avisam-nos e contra a qual nosso Senhor rogou ao Pai em Sua oração sacerdotal antes da Paixão (João 17). Agora, nos dias do Irmão Jack, já existem 20.000 denominações não católicas diferentes! Certamente, São Paulo estava correto em horrorizar-se, por completo, com a visão das três ou quatro denominações que, naquela época, surgiam em Corinto e — sem misericórdia! — em matar este câncer maligno antes que pudesse “metastizar-se”. 
Sola Scriptura, sem uma Igreja autoritativa, significa que cada pupilo interpretará o livro do professor à sua maneira, não à maneira do professor, tornando-o, assim, supérfluo. Eventualmente, haverá tantas interpretações quantos pupilos, de fato, tantos livros quantos pupilos. Desta feita, a Sola Scriptura mina a autoridade da própria Escritura que exalta. A conclusão lógica da interpretação privada são igrejas privadas — eventualmente, tantos protestantismos quanto protestantes. Quinto, há o argumento causal. Uma causa falível não pode produzir um efeito infalível, mas a Igreja é a causa eficiente das Escrituras. Ela escreveu-a. Ela é, também, sua causa formal: Ela definiu seu cânone. Assim, se a Igreja é apenas falível, as Escrituras são falíveis. Novamente, tua doutrina do Sola Scriptura rebaixa a autoridade da própria Escritura que deseja exaltar. Sexto, os ataques à autoridade das Escrituras por hermeneutas céticos, naturalistas e modernistas têm, de fato, lançado metade do mundo protestante em algo que até tu chamarias de heresia. Embora muitos eruditos individuais católicos sejam, também, modernistas, a Igreja jamais o foi nem o será. Então, mais uma vez, tua negação da autoridade da Igreja tem solapado a autoridade das Escrituras. Em teu segundo ponto principal, Sola Fide, pergunto-me se a nossa aparente contradição referente à justificação pela fé não esconde uma concordância real, pois eu concordo contigo que apenas a fé pode justificar-nos, como São Paulo, claramente, di-lo e penso que tu concordas que as boas obras são o fruto inevitável da fé real e salvífica. Tu, também, concordas que a fé intelectual, por si, não nos justifica (pois “os demônios também crêem, e tremem”) e que a maior das três “virtudes teologais”, a fé, a esperança e a caridade, não é a primeira, mas, sim, a última, assim como este mesmo Apóstolo diz-nos, e eu concordo contigo quando dizes que o homem não pode comprar seu caminho para o Céu com boas obras (pois “todas as nossas justiças são como trapo de imundícia”) e tu não dizes que não importa o que fazemos após acreditarmos. Tu vês, meu Irmão, como nos compreendem mal e fazem de nós caricaturas os nossos apologistas? Também, concordo que os frutos da fé, freqüentemente, faltam entre os católicos, mas faltam, também, entre os protestantes. Será que isto refuta a teologia protestante? Certo homem chamado Chesterton, que escreveu o melhor livro que há sobre mim, certa feita, disse que o único grande argumento contra o Cristianismo são os cristãos. Todavia, não se pode provar a verdade doutrinária pelo medir da temperatura espiritual de seus aderentes. Hereges podem ser um tanto morais e sinceros e autoridades que falam a verdade, perversas. Os papas Borgia foram libertinos, assassinos e hipócritas, e, não obstante, sentaram-se na cadeira de Moisés. Já que estamos a falar disto, nenhum daqueles papas perversos, jamais, alterou os ensinamentos da Igreja, mesmo quando os desprezavam. Por que não haveria um homem de estilhaçar o espelho que lhe mostra seus pecados, a menos que este espelho seja divinamente protegido? Portanto, tomo os mesmos fatos que tu lanças contra a Igreja — sua corrupção — a fim de provar sua sobrevivência providencial e miraculosa. Finalmente, Sola Gratia. Com este, eu e o Concílio de Trento, ambos, concordamos, mas, como Agostinho (que tu, também, reivindicas como teu professor), eu acredito, também, em livre-arbítrio, pois, como Agostinho, eu abraço ambos os lados do paradoxo presente no coração de todos os mistérios da fé, desde a Trindade, através da Encarnação, até a natureza física-espiritual do homem. Agostinho diz que todos os homens possuem livre arbítrio (liberum arbitrium) por natureza, mas apenas os redimidos possuem liberdade, ou a liberdade do pecado (libertas), através da graça. Tu negas o livre-arbítrio, pois enxergas nele um humanismo pagão. Isto não é verdade. Ele é a própria imagem de Deus em nós e tanto sua criação quanto redenção dependem da graça. Nossa própria livre cooperação livre com a graça, também, dá-se pela graça, como escrevi em minha “pequena” Suma, se tu pelo menos houvesse a lido. Não digo que metade de nossa vida, ou metade de nossa salvação, vem de nós e não de Deus. Todas as coisas vêm de Deus. A relação aqui se assemelha à relação de um autor com seus personagens. Todas as escolhas de Odisseu são livres e todas são suas; são, também, todas predestinadas, e todas de Homero, pois Deus, nosso soberano Autor, decreta-nos livres. Deus é nosso Homero. Ele é teu Pai, não teu padrasto; Ele não faz uma oferta que tu não possas recusar. 

LUTERO: Terminaste?

AQUINO: Sim.

LUTERO: Pois bem. Prometemos examinar o conceito do Irmão Jack, de um “Cristianismo Puro e Simples”, mas me parece que diferimos tão radicalmente sobre o que o Cristianismo que a noção mesma de algum conceito comum encontra-se, agora, em risco.

AQUINO: Isto não é verdade, Irmão Martinho.

LUTERO: Como não o é, Irmão Tomás, se tu negas e afirmas todos os meus três Solas

AQUINO: Eu afirmo-os em todos os seus sentidos apropriados, mas precisamos do cuidado e da paciência de um filósofo a fim de definirmos estes sentidos. A fórmula Sola Scriptura está correta materialmente, mas não formalmente. O material bruto, o conteúdo, os dados da fé, estão todos nas Escrituras, mas a Igreja define-o e formaliza-o em seus Credos. 

LUTERO: Se os dados para todos os ensinamentos católicos devem estar nas Escrituras, então, é melhor que abandones teus Dogmas Marianos, pois estes não estão lá.

AQUINO: Com certeza, estão. Eles estão. 

LUTERO: Mas as Escrituras quase não falam sobre ela. Apenas alguns versos soltos. Tu ergueste um enorme prédio sobre um minúsculo fundamento que não aguenta seu peso.

AQUINO: Pode uma bolota aguentar o peso dum carvalho? O imenso edifício do Dogma Trinitário, como definido pelos conselhos ecumênicos dos primeiros seis séculos, que tu manténs, assim como eu, também, repousa sobre um fundamento textual, relativamente, pequeno nas Escrituras e algo misterioso: observa quão facilmente muitos hereges compreendem erroneamente o mesmo dado e quão variados são seus erros.
A metáfora da árvore é-nos propícia: a Igreja faz seus dogmas crescerem, gradualmente, desde dentro, como uma árvore cresce; não como os prédios crescem, a partir de fora. Portanto, minha analogia biológica é mais apropriada que a tua, tecnológica. 

LUTERO: Permita-me, então, tentar uma terceira imagem. Os católicos têm dois cavalos puxando sua biga — a Igreja e as Escrituras — ao passo que os protestantes têm apenas um. Há uma óbvia contradição aqui entre nós. 

AQUINO: Há apenas um cavalo, que, por sua vez, precisa de um cavalheiro. Há apenas um livro divino, que, por sua vez, precisa de apenas um intérprete divino. 

LUTERO: Tua analogia não é apropriada…

AQUINO: Os cavalos foram tua analogia, Irmão Martinho, não minha. 

LUTERO: Tu forneceste o cavalheiro, Irmão, eu forneci apenas o cavalo. Teu cavalheiro é o mestre do cavalo, mas a Igreja não é o mestre das Escrituras, e sim, sua serva. 

AQUINO: Concordo! Assim como o intérprete é o servo do livro que interpreta.

LUTERO: Mas qualquer um pode ver que este intérprete já não é mais o humilde servo de seu livro, mas, sim, o autor de um segundo livro. Tal coisa não é difícil de ver-se. Qualquer um pode comparar os Dogmas da Igreja com as Escrituras e enxergar, por si mesmo, que a Igreja está adicionando, não apenas interpretando. Hei de tornar isto mais claro lançando mão de mais uma imagem. O que fiz foi reformar a Igreja, não a refundar. Foi algo como arrancar crustáceos do casco de um navio, da Arca da Igreja. Eu restabeleci-a à forma designada por Deus, que havia se deformado por uma crosta de crustáceos adicionada por homens. 

AQUINO: Então, tu acreditas que nosso Senhor criara uma igreja protestante e nós tornamo-la católica, ou romana, ao passo que nós acreditamos que nosso Senhor criara uma igreja católica e tu tornaste-a protestante, reduzira a Arca a um barco a vela. 

LUTERO: Essencialmente, esta é nossa diferença sobre a história da Igreja. 

AQUINO: Muito bem. Então, a questão pode ser testada empiricamente. A pesquisa histórica há de mostrar ou uma posição ou a outra e eu reivindico que ela há de mostrar a continuidade dos Dogmas Católicos e suas raízes nos mais antigos escritos dos Pais da Igreja. Muitos conversos católicos encontraram seu caminho para Roma na estrada da história — o cardeal Newman por exemplo. Todas as doutrinas, distintamente, católicas serão encontradas lá, muito cedo, na história da Igreja, embora algumas estejam mais claras que outras.

LUTERO: Assim tu reivindicas, mas eu reivindico para as Escrituras o mesmo que tu reivindicas para os Pais da Igreja: que uma investigação empírica e factual há de revelar que a igreja fundada por Cristo era protestante, não católica. Tu reivindicas provar o Catolicismo ao encontrá-lo nos Pais; eu reivindico provar o Protestantismo por encontrá-lo nas Escrituras e, assim como tu reivindicas não encontrar quaisquer doutrinas distintamente protestantes nos Pais, eu reivindico não encontrar quaisquer doutrinas, distintamente, católicas nas Escrituras.

AQUINO: Então, devemos comparar a doutrina católica com as Escrituras e a doutrina protestante com os Pais e observarmos quais reivindicações hão de mostrarem-se falsas pelos fatos e lembre: o argumento do silêncio nada prova. Tu deves provar que as Escrituras contradizem a doutrina católica e eu devo provar que, desde o começo, os ensinamentos da Igreja, explicitados nos escritos dos Pais, contradizem a doutrina protestante. Ora, como tu propões que comecemos esta investigação? 

LUTERO: Irmão Tomás, deves estar, agora, em um de teus famosos transes de distração novamente. Não temos o tempo necessário para tal investigação aqui, pois estamos na Terra, e não no Céu, e estamos aqui pelo Irmão Jack, que se encontra restrito pelo tempo. Ele é mortal e não como nós. O homem não tem um tempo livre infinito. 

AQUINO: Lamentável!

LUTERO: Sugiro que confinemos nossos argumentos às Escrituras. 

AQUINO: Tal procedimento pressupõe teu Sola Scriptura, pelo menos na prática, mas esta é a questão mesma em disputa aqui. Tu pareces cometer um petitio principii

LUTERO: Não. Desejo mover-nos para o Sola Fide, o mais crucial dos Solas, posto ser aquele que nos diz o que devemos fazer para que sejamos salvos e, uma vez que ambos aceitam a autoridade das Escrituras, a partir delas, poderei argumentar que Romanos e Gálatas, claramente, ensinam o Sola Fide, quer o Sola Scriptura seja verdadeiro ou não. 

AQUINO: Mas também aceito o Sola Fide em seu sentido apropriado, assim como aceito o Sola Scriptura em seu sentido apropriado, como já o disse. Também, aceito o Sola Gratia, visto, também, encontrar-se nas Escrituras.

LUTERO: Tu, entretanto, não aceitas estes três princípios. Teu “sentido apropriado” é, na verdade, inapropriado. Tu não os aceita em essência. 

AQUINO: A essência que tu imputas-lhes, não, não aceito, mas a essência que lhes é imputada pela Igreja e pelas Escrituras, sim. Tu não és minha autoridade, afinal de contas; a Escritura e a Igreja são-nas.

LUTERO: Tu não aceitas a maneira ensinada pelas Escrituras. Tu contradize-las.

AQUINO: Assim, tu pensas e o mesmo penso de ti. Nenhum de nós pode ser o juiz de ambos. Vês? Esta é a razão pela qual precisamos deixar a decisão nas mãos da autoridade da Igreja. 

LUTERO: Não, precisamos deixar esta decisão nas mãos das Escrituras. 

AQUINO: Ambos, entretanto, aceitamos esta autoridade, e, não obstante, discordamos. Portanto, somente esta autoridade — somente as Escrituras — não é, de fato, capaz de resolver divergências. O que nos sucede, agora, é, justamente, a história da Igreja em miniatura e, neste pequeno laboratório, poderemos ver, com clareza, como as interpretações privadas, sozinhas, inevitavelmente, levam-nos ao erro. 

LUTERO: Isto é falso. O Espírito há de manter-nos unidos e guardar-nos do erro se, tão somente, submetermo-nos ao Seu comando.

AQUINO: Ora, julgo que posso provar-te que a interpretação privada leva-nos ao erro se tu, apenas, permitires que eu faça-te algumas perguntas no estilo socrático. 

LUTERO: Faze-as.

AQUINO: Tu pensas que meu Catolicismo vem de mim ou de Deus? É o Espírito Santo que me induz à submissão à Igreja Católica e ao Papa e a acreditar em todos estes ensinamentos que tu rejeitas ou é meu próprio espírito humano? 

LUTERO: Teu espírito humano obviamente.

AQUINO: Então, ao, assim, proceder, caí em erro, tu dizes.

LUTERO: De fato.

AQUINO: Então, a interpretação privada leva-nos ao erro.

LUTERO: Isto é um sofisma! 

AQUINO: Não, é apenas lógica. Um de dois contraditórios deve ser falso. Objetas a isto? 

LUTERO: Não…

AQUINO: E nossas duas posições são contraditórias, tu o dizes?

LUTERO: Sim. Espere — suponha que eu diga não? 

AQUINO: Então, recebo-te com braços abertos à união e à reconciliação com Roma!

LUTERO: E se eu disser que são contraditórias? 

AQUINO: Então, um de nós foi levado ao erro.

LUTERO: Sim.

AQUINO: Então, a interpretação privada leva ao erro. 

LUTERO: Não: a interpretação romana leva-nos ao erro. Minha interpretação privada, guiada pelas Escrituras e pelo Espírito, diferentemente da tua, levou-me à verdade.

AQUINO: Estão, todas as “interpretações romanas” estão erradas? Temos nos papas algum magistério do erro infalível?

LUTERO: Suponho que não. Nem mesmo a ACLU pode estar errada sempre. 

AQUINO: E todas as interpretações privadas estão elas certas? Estão corretas, cada uma das 20.000 denominações protestantes, mesmo quando se contradizem umas às outras?

LUTERO: É óbvio que não, mas estes, ainda, são sofismas, Irmão Tomás. Tu poderias, simplesmente, negar o sentido claro de qualquer texto nas Escrituras e, daí, inferir que a interpretação privada leva ao erro e que a Igreja deve tomar a frente e interpretar a Bíblia de maneira autoritária. As Escrituras são claras para aqueles cuja abordagem é clara. O puro de coração há de, verdadeiramente, ver Deus. Se tua vontade é fazer a vontade do Pai, hás de entender o ensinamento.

AQUINO: Se as Escrituras são claras, por que tantas heresias? Todos os hereges têm reivindicado as Escrituras, acreditado nas Escrituras, apelado às Escrituras.

LUTERO: Mas não se submeteram ao Espírito. O Espírito jamais nos desvia do caminho correto.

AQUINO: De fato, não, mas como podemos saber quais mestres possuem o Espírito e, portanto, a verdade e quais, apenas, reivindicam ter-Lho, mas não o têm e, portanto, não possuem a verdade — a menos que tenhamos a Igreja para dizer-nos isto publicamente? Testemunhas privadas contradizem; uma testemunha pública julga.

LUTERO: A testemunha pública são as Escrituras. Elas interpretam-se a si mesmas.

AQUINO: Que queres dizer com “As Escrituras interpretam-se a si mesmas”? 

LUTERO: Que ninguém que, com honestidade, buscar a verdade em suas páginas há de desviar-se. 

AQUINO: Parece-me, portanto, que tu deves acreditar que jamais houve um herege honesto.

LUTERO: E parece-me que tu deves acreditar que Deus deu-nos as Escrituras como um quebra-cabeças para ser montado pelos papas, em vez de uma luz para iluminar os leigos — um quebra-cabeças para teólogos em vez de um mapa para todos os cristãos.

AQUINO: Não creio nisto, assim como tu não acreditas que jamais houve um herege honesto. Até mesmo o mais elevado dos mestres é, freqüentemente, mal compreendido ao falar de excelsos mistérios do Reino — como o foi o nosso próprio Senhor, em muitas ocasiões, tanto por Seus amigos quanto por Seus inimigos.

LUTERO: Portanto, de acordo com ti, a Igreja deve aperfeiçoar os ensinamentos de nosso Senhor? 

AQUINO: Não, mas, sim, obedecer à Sua comissão de explicá-las, de explorá-las, e de aplicá-las fielmente. 

LEWIS (novamente interrompendo): Senhores, estou impressionado com os argumentos de ambos, mas já ouvi a maioria deles antes e não me encontro nem um pouco mais próximo da certeza. Não mencionei nenhum destes argumentos em meu livro, pois não desejava colocar as Escrituras contra a Igreja, ou a protestante contra a católica, pois possuo imensa estima por todos os quatro.

AQUINO: Uma alta estima de ambas, a Igreja e as Escrituras, soa mais católico do que protestante. 

LUTERO: Mas o Irmão Jack inclui apenas ensinamentos protestantes — isto é, escriturísticos — em seu “Cristianismo Puro e Simples”. Portanto, “Cristianismo Puro e Simples” é apenas outro nome para o Cristianismo protestante. 

LEWIS: Discordo de ambos aqui. “Cristianismo Puro e Simples” não é mais católico do que protestante, nem é mais protestante do que católico: é o fundamento comum de ambos.

LUTERO: O fundamento comum do Cristianismo?

LEWIS: Justamente.

LUTERO: E o Cristianismo, essencialmente, informa-nos sobre nossos pecados e a salvação oferecida por Cristo, não?

LEWIS: Sim.

LUTERO: Então, teu “Cristianismo Puro e Simples” diz-nos o que devemos fazer para sermos salvos?

LEWIS: Sim.

LUTERO: Sendo assim, se há divergências entre protestantes e católicos quanto ao assunto da salvação, não há qualquer núcleo comum, nenhum “Cristianismo Puro e Simples” comum.

LEWIS: Isto parece estar correto.

AQUINO: Parece-me que, agora, chegamos ao coração de nossa questão sobre o “Cristianismo Puro e Simples”.

LUTERO: Deveras, e a questão perante nós é, apenas, a questão mais momentosa jamais feita por qualquer homem: “O que devo fazer para ser salvo?”. A resposta clara e simples das Escrituras é: “Acredite no Senhor Jesus Cristo e tu serás salvo.”.

AQUINO: E eu aceito isto. Tu, também, aceitas que as boas obras são um fruto necessário da fé?

LUTERO: Concordo.

AQUINO: Então, concordamos em dois pontos essenciais. 

LUTERO: Não concordo, contudo, quando tu dizes que as boas obras contribuem para nossa salvação. É apenas a fé que nos salva.

AQUINO: Tu, no entanto, admites que as boas obras são, pelo menos, um  sinal da fé, como uma nota na escola, correto?

LUTERO: Mas a nota não é a causa do passar de ano. É apenas o efeito.

AQUINO: Correto. Entretanto, é uma parte de todo o processo de educação. O fruto é parte de todo o processo de crescimento duma planta e, assim, também, as boas obras são uma parte de todo o processo da salvação.

LUTERO: Salvação, não. Justificação, não. Apenas, santificação.

AQUINO: Portanto, tu admites, pelo menos, que, embora um homem possa ser justificado somente pela fé, ele não é santificado somente pela fé, mas, também, pelas obras?

LUTERO: Ele é santificado, também, por sua fé.

AQUINO: É esta uma fé que opera? Não é verdade que esta fé leva às boas obras, tão certo como a semente leva à flor, se estiver, realmente, viva? 

LUTERO: Isto é verdade.

AQUINO: Então, a fé opera. Ambos concordamos sobre isto. Penso que discordamos sobre como ela opera, mas isto é Teologia. Isto que opera é religião. Temos a mesma religião, mesmo que tenhamos diferentes teologias. 

LUTERO: Não tenho certeza se aceito tua análise de nossas diferenças. Permita-me tentar entender. Como tu enxergas nossas mais profundas diferenças na Teologia?

AQUINO: Em dois lugares. Primeiro, na ligação entre fé e salvação. Segundo, na ligação entre fé e obras. Tu ensinaste uma “teologia federal”: ensinaste que a ligação entre fé e salvação era o decreto legal de Deus. Eu ensinei que há uma ligação ontológica, que a fé e o batismo, de fato, permitem que a própria vida divina adentre nossas almas, assim como ligar uma torneira permite que a água flua. 

LUTERO: Isto está correto. Eu era um nominalista e suspeitava de tal metafísica. 

AQUINO: E a segunda ligação, entre fé e boas obras, era, para ti, a nossa gratidão por sermos salvos, mas, para mim, é, novamente, ontológica: a mesma vida sobrenatural que permitimos entrar em nós, pela fé, deixamos sair pelas boas obras. 

LUTERO: Novamente, a metafísica! 

AQUINO: Certamente, contudo, a realidade objetiva da vida e da graça de Deus é uma base mais sólida para uma conexão do que a resposta e sentimentos subjetivos do homem? Isto me parece mais um humanismo do que Cristianismo!

LUTERO: Isto não é mais humanista que a tua crença de que nossa fé faz a vida de Cristo entrar em nós. Digo que é, exatamente, o inverso: o objeto de nossa fé, Cristo, é a causa de nossos atos e fé. 


AQUINO: Afirmo a mesma coisa. Esta é a razão pela qual concordo com o teu Sola Gratia. Tanto nosso livre-arbítrio quanto nossa escolha de aceitar a graça de Deus são, elas mesmas, graça: ambas criadas, nutridas e inspiradas pela graça. Uma das maiores santas da Igreja, em seu último suspiro, disse: “Tudo é graça”. É a graça de Deus que nos dá Cristo. É Cristo quem nos dá o Espírito. É o Espírito que infunde a vida sobrenatural em nossas almas. É esta vida que produz nossa fé. Finalmente, esta fé cria suas próprias boas obras assim como uma boa árvore dá bons frutos. É tudo uma só corrente divina, com seis elos dourados, que se ligam por meio do amor. “Deus é amor, e aquele que vive no amor, vive em Deus e Este nele” — esta realidade concreta é o “Cristianismo Puro e Simples”. Contudo… neste ponto, a conversa foi, bruscamente, interrompida. Os três homens começavam a esboçar um sorriso quando duas coisas aconteceram simultaneamente. Primeiro, o rádio anunciou um evento apocalíptico na América: o Boston Red Sox vencera a World Series. Segundo, entre a voz do anúncio, o céu abriu-se como um pergaminho e todos os três homens foram arrebatados para o Céu. Enquanto subiam, ouviram uma voz parecida com aquela de Charlton Heston balbuciando algo sobre “o mais claro sinal apocalíptico que eu jamais lhes dei”. Talvez devêssemos começar nosso trabalho e completar a discussão que eles começaram antes que seja tarde demais. 

OBS. : Este texto será incluso no apêndice da nova edição do livro "Por que estes protestantes tornaram-se católicos! Testemunhos de ex-pastores e leigos que voltaram à Igreja-Mãe", de autoria do Jaime Francisco de Moura.



Tradução: Raul Martins
Revisão: Fábio Salgado de Carvalho

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Como um Doutor em Teologia abraçou o Catolicismo - História de Conversão de A.David Anders, Ph.D

  

Um Historiador protestante descobre a Igreja Católica – História de conversão de A.David Anders, Ph.D.




Por A. David Anders, Ph.D.


Eu cresci como um protestante evangélico, em Birmingham, Alabama. Meus pais eram amorosos e dedicados, sinceros em sua fé, e profundamente envolvidos na nossa igreja. Eles embutiram em mim um respeito pela Bíblia como a Palavra de Deus, e um desejo de uma fé viva em Cristo. Missionários freqüentavam a nossa casa e traziam consigo seu entusiasmo pelo seu trabalho. As estantes de livros em nossa casa estavam cheias de teologia e apologética. Desde cedo, eu absorvi a noção de que o ponto mais alto possível na vocação era ensinar a fé cristã. Acho que não é nenhuma surpresa que eu tornei-me um historiador da Igreja, mas se tornar um católico era a última coisa que eu esperava.

A Igreja da minha família era nominalmente presbiteriana, mas as diferenças denominacionais significavam muito pouco para nós. Eu freqüentemente ouvia que divergências sobre o batismo, a ceia do Senhor,  ou o governo da igreja não eram importantes, enquanto se acreditasse no Evangelho. Por isso, dizíamos que se deveria "nascer de novo", que a salvação é pela fé, e que a Bíblia é a única autoridade para a fé cristã. Nossa igreja apoiou os ministérios de muitas denominações protestantes diferentes, mas o nosso grupo certamente se opunha à Igreja Católica.

O mito de que os protestantes "recuperaram" o Evangelho era forte em nossa igreja. Eu aprendi muito cedo a idolatrar os reformadores protestantes Martinho Lutero e João Calvino, porque supostamente haviam resgatado o Cristianismo  das trevas do catolicismo medieval. Os católicos eram os que confiavam em "boas obras" para levá-los para o céu, que se rendiam à tradição em vez das Escrituras, e que adoravam Maria e os santos em vez de Deus. Sua obsessão com os sacramentos também criou um enorme obstáculo para a verdadeira fé e um relacionamento pessoal com Jesus. Não havia dúvida. Os católicos não eram  cristãos verdadeiros.


Nossa igreja era caracterizada por uma espécie de intelectualismo confiante. Presbiterianos tendem a ser bastante preparados teologicamente, e professores de seminário, apologistas, cientistas e filósofos eram oradores freqüentes em nossas conferências. Foi essa atmosfera intelectual que atraiu o meu pai para a igreja, e suas estantes estavam alinhadas com as obras do reformador João Calvino, e os puritanos Jonathan Edwards, bem como autores mais recentes como B. B. Warfield, A. A Hodge, C. S.Lewis e Francis Schaeffer. Como parte dessa cultura acadêmica, tomamos como certo que a investigação honesta levaria qualquer um a nossa versão da fé cristã.


Todas essas influências deixaram impressões definitivas sobre mim enquanto criança. Eu cheguei a enxergar o cristianismo como um pouco parecido com a física newtoniana. A fé cristã consistia em certas leis eminentemente razoáveis ​​e imutáveis​​, e você estava garantido à vida eterna, desde que você construísse a sua vida de acordo com esses princípios. Eu também pensei que essa era a mensagem claramente enunciada no livro oficial da teologia cristã: a Bíblia. Somente a confiança irracional na tradição humana ou a indiferença depravada poderia explicar o fracasso de alguém em compreender essas verdades simples.


Havia uma estranha ironia nesse ambiente altamente religioso e teológico. Deixávamos claro que era a fé e não as obras que salva. Também, confessamos a crença protestante clássica de que todas as pessoas são "totalmente depravadas", o que significa que até mesmo os seus melhores esforços morais são intrinsecamente odiosos para Deus e podem merecer nada. No momento em que cheguei no ensino médio, eu juntei essas peças e conclui que a prática religiosa e o esforço moral eram mais ou menos irrelevantes para a minha vida. Não é que eu tenha perdido a minha fé. Pelo contrário, eu absorvi-a completamente. Eu tinha aceitado a Cristo como meu Salvador e era "nascido de novo." Eu acreditava que a Bíblia era a palavra de Deus. Eu também acreditava que nenhum dos meus trabalhos religiosos ou morais tinham qualquer valor. Então eu parei de praticá-los.


Felizmente, minha indiferença durou apenas alguns anos, e eu tive uma verdadeira reconversão à fé na faculdade. Descobri que a minha necessidade de Deus era mais profunda do que simples "seguro contra incêndio." Eu também conheci uma linda menina com quem eu comecei a ir aos trabalhos protestantes . Jill tinha crescido nominalmente como católica, mas falhou em manter a prática da sua fé após a Confirmação. Juntos, encontrávamo-nos crescendo mais profundamente na fé protestante, e , depois de alguns meses, ambos tornaram-se desiludidos com a atmosfera mundana da nossa Universidade de Nova Orleans.  Concluímos que o Centro-Oeste e a Universidade evangélica Wheaton College iriam proporcionar-nos um ambiente mais espiritual, e nós dois fomos transferidos no meio do nosso segundo ano (em janeiro de 1991).


Wheaton College é como um farol para cristãos evangélicos sinceros de várias origens. Protestantes de diversas denominações estão representados, unidos em seu compromisso com Cristo e na Bíblia. Minha infância ensinou-me que a teologia, a apologética e o evangelismo eram o mais alto chamado de um cristão, e eu encontrei-os todos em oferta abundante no Wheaton. Foi aí que pensei pela primeira vez  em dedicar minha vida ao estudo da teologia. Foi também em Wheaton que Jill e eu tornamo-nos noivos.

Depois de graduados, Jill e eu casamo-nos no Trinity Evangelical Divinity School, em Chicago. Meu objetivo era ter uma educação de seminário, e, eventualmente, completar um Ph.D. . Eu queria tornar-me um daqueles professores de teologia que tinham sido tão admirados na minha igreja durante a minha juventude.



Atirei-me no seminário com desprendimento. Eu amei meus cursos de teologia,  Escritura, história da Igreja, e eu prosperei na fé, na confiança e no senso de missão que permeava a escola. Eu também abracei sua atmosfera anticatólica. Eu estava lá em 1994, quando o documento "Evangélicos e Católicos Unidos [1]" foi publicado pela primeira vez e a faculdade era quase em sua totalidade hostil a ele. Eles viram qualquer compromisso com os católicos como uma traição da Reforma. Os católicos não eram simplesmente irmãos no Senhor. Eles eram apóstatas.


Eu aceitei as atitudes anticatólicas dos meus professores de seminário, por isso, quando chegou a hora de seguir em frente nos meus estudos, decidi focar em um estudo histórico da Reforma. Eu pensei que não poderia haver uma melhor preparação para atacar a Igreja Católica e ganhar conversos do que conhecer profundamente as mentes dos grandes líderes de nossa fé — Martinho Lutero e João Calvino. Eu também queria entender toda a história do cristianismo para que eu pudesse situar a Reforma em seu contexto. Eu queria ser capaz de mostrar como a igreja medieval tinha deixado a verdadeira fé e como os reformadores  tinham a recuperado. Para este esse fim, comecei meu Ph.D. em estudos de teologia histórica na Universidade de Iowa. Eu nunca imaginei que a história da Reforma da Igreja levar-me-ia à Igreja Católica.

Antes que eu começasse meus estudos em Iowa, Jill e eu testemunhamos o nascimento do nosso primeiro filho, um menino. Seu irmão nasceu menos de dois anos depois, e uma irmã chegou antes de sairmos de Iowa (agora , temos cinco filhos). Minha esposa estava muito ocupada cuidando das crianças, enquanto me comprometi quase inteiramente com meus estudos. Vejo hoje que eu passei muito tempo na biblioteca, e não tempo suficiente com a minha esposa, meus filhos pequenos e minha filha. Eu acho que justifiquei essa negligência por confiar no meu senso de missão. Eu tinha uma vocação — testemunhar a fé por meio do estudo teológico — e uma visão intelectual da fé cristã e do meu dever cristão. Para os cristãos evangélicos, o que se acredita é mais importante do que o que se vive. Eu estava aprendendo a defender e a promover essas crenças. O que poderia ser mais importante?

Eu comecei meus estudos doutorais em setembro de 1995. Tive cursos de : Igreja Primitiva, Medieval e história da Reforma da Igreja. Eu li os Padres da Igreja, os teólogos escolásticos e os reformadores protestantes. Em cada etapa, tentei relacionar teólogos mais recentes com aqueles primeiros, e todos eles com as Escrituras. Eu tinha um objetivo de justificar a Reforma e isso significava, acima de tudo, investigar a doutrina da "justificação pela fé." Para os protestantes, esta é a doutrina mais importante a ser "recuperada" pela Reforma.

Os reformadores tinham insistido que eles estavam seguindo a Igreja Primitiva ao ensinar o "somente pela fé" e como prova indicaram os escritos do Padre da Igreja Agostinho de Hipona (354-430). Meus professores de seminário também indicaram Agostinho como a fonte originária da teologia protestante. A razão para isso era o interesse de Agostinho nas doutrinas do pecado original, da graça e da justificação. Ele foi o primeiro dos Padres a tentar uma explicação sistemática desses temas paulinos. Ele também chamou atenção para um nítido contraste entre "obras" e "fé" ( cf. sua On the Spirit and the Letter, 412 dC). Ironicamente, foi a minha investigação dessa doutrina e de Santo Agostinho, que iniciou minha jornada à Igreja Católica.

Minha primeira dificuldade surgiu quando comecei a entender o que realmente Agostinho ensinou sobre a salvação. Em poucas palavras, Agostinho rejeitou a "Sola Fide”. É verdade que ele tinha um grande respeito pela fé e pela graça, mas viu estas principalmente como fonte de nossas boas obras. Agostinho ensinou-nos que nós literalmente "merecemos” a vida eterna quando nossas vidas são transformadas pela graça. Isso é completamente diferente do ponto de vista protestante.

As implicações da minha descoberta foram profundas. Eu sabia o suficiente pelos meus dias de faculdade e de seminário para entender que Agostinho ensinava nada menos que a doutrina católica romana da justificação. Eu decidi passar para os primeiros Padres da Igreja em minha busca pela "fé pura" da antiguidade cristã. Infelizmente, os primeiros Padres da Igreja ajudavam menos do que Agostinho.

Agostinho tinha vindo da porção falante da língua latina no norte da África. Outros vieram da Ásia Menor, da Palestina, da Síria, de Roma,  da Gália, e do Egito. Eles representavam diferentes culturas, falavam diferentes línguas, e foram associados a diferentes apóstolos. Eu pensei que seria possível que alguns deles pudessem ter entendido mal o Evangelho, mas parecia improvável que todos iriam estivessem equivocados. A verdadeira fé tinha de estar representada em algum lugar do mundo antigo. O único problema era que eu não poderia encontrá-lo. Não importa para onde eu olhava, em qualquer continente, em qualquer século, os Padres concordavam: a salvação vem por meio da transformação da vida moral e não somente pela fé. Eles também ensinaram que essa transformação começa e é alimentada nos sacramentos, e não através por meio de alguma experiência de conversão individual.

Nessa fase da minha jornada , eu estava ansioso para continuar a ser um protestante. Toda a minha vida, casamento, família e carreira estavam ligados ao protestantismo. As minhas descobertas na história da Igreja eram uma enorme ameaça para a minha identidade, então eu foquei em estudos bíblicos que proporcionassem conforto e ajuda. Eu pensei que se eu pudesse ser absolutamente confiante no apelo dos reformadores às Escrituras, então eu basicamente poderia demitir 1500 anos de história cristã. Evitei a erudição católica, ou livros que eu achava que tinham a intenção de minar a minha fé, e preferi concentrar-me no que eu achava que eram as obras protestantes mais objetivas, históricas e também de erudição bíblica. Eu estava procurando por uma prova sólida de que os reformadores estavam certos em sua compreensão de Paulo. O que eu não sabia era que o melhor da erudição protestante no século XX já havia rejeitado a leitura de Lutero da Bíblia.


Lutero baseou toda a sua rejeição à Igreja nas palavras de Paulo: "Uma pessoa é justificada pela fé, independentemente das obras da lei" (Romanos 3: 28). Lutero assumiu que esse contraste entre "fé" e "obras" significava que não havia papel para a moralidade no processo de salvação (de acordo com a visão tradicional protestante, o comportamento moral é uma resposta para a salvação, mas não um fator contribuinte). Eu tinha aprendido que os primeiros Padres da Igreja rejeitaram essa visão. Agora , eu tinha encontrado toda uma gama de estudiosos protestantes que também estavam dispostos a testemunhar que isso não era o que Paulo queria dizer.


Os Padres da Igreja do século II acreditavam que Paulo havia rejeitado a relevância somente da lei judaica para a salvação ("obras da lei" = lei mosaica). Eles viram a fé como a entrada para a vida na Igreja, nos sacramentos, e do [no] Espírito. A fé admite-nos por meio da graça, mas não é em si um motivo suficiente para a salvação. O que eu vi nos mais recentes e altamente respeitados estudiosos protestantes era o mesmo ponto de vista. A partir do último terço do século XX, estudiosos como E.P.Sanders, Krister Stendhal, James Dunn, e N. T. Wright têm argumentado que o protestantismo tradicional mal interpretou profundamente Paulo. De acordo com Stendhal e outros, a justificação pela fé é principalmente sobre as relações entre judeus e gentios, e não sobre o papel da moralidade como condição de vida eterna. Juntos, o seu trabalho tem sido referido como "A Nova Perspectiva sobre Paulo".

Minha descoberta desta "Nova perspectiva" foi um divisor de águas na minha compreensão das Escrituras. Eu vi, para começar, que a "Nova perspectiva" era a "Velha Perspectiva" dos primeiros Padres da Igreja. Comecei a testá-la contra a minha própria leitura de Paulo e descobri que ela tinha sentido. Ela também resolveu a tensão de longa data que eu sempre senti entre Paulo e o resto da Bíblia. Mesmo Lutero tinha tido dificuldade em conciliar sua leitura de Paulo com o Sermão da Montanha, a epístola de São Tiago e o Antigo Testamento. Uma vez  que eu apliquei a "Nova Perspectiva", esta dificuldade desapareceu. Relutantemente, eu tive de aceitar que os reformadores estavam errados sobre a justificação.

Essas descobertas no meu trabalho acadêmico foram paralelas em certa medida a descobertas na minha vida pessoal. A teologia protestante distingue fortemente crença de comportamento, e eu comecei a ver como isso me afetou. Desde a infância, eu sempre tinha identificado teologia, apologética e evangelismo como sendo o mais alto chamado na vida cristã, enquanto as virtudes deveriam ser meros frutos da crença correta. Infelizmente, descobri que os frutos não estavam apenas faltando em minha vida, mas que minha teologia tinha realmente contribuído para os meus vícios. Ela tornou-me severo, orgulhoso e argumentativo. Eu também percebi que eu tinha feito a mesma coisa que os meus heróis.

Quanto mais eu aprendia sobre os reformadores protestantes, menos eu gostava deles como pessoas. Eu reconheci que o meu próprio fundador, João Calvino, era um homem arrogante e autoconfiante, que foi brutal aos seus inimigos, nunca aceitou a responsabilidade pessoal e condenou qualquer um que discordasse dele. Ele chamou a si mesmo de profeta e atribuiu autoridade divina ao seu próprio ensino. Isso contrasta totalmente com o que eu estava aprendendo sobre os teólogos católicos. Muitos deles eram santos, o que significava que eles tinham vivido vidas de caridade heróica e de abnegação. Mesmo os maiores deles  — homens como Agostinho e Tomás de Aquino — também reconheceram que eles não tinham autoridade pessoal para definir o dogma da Igreja.

Exteriormente, permaneci firme como anticatólico. Eu continuei a atacar a Igreja e a defender a Reforma, mas interiormente eu estava em agonia psicológica e espiritual. Descobri que a minha teologia e o trabalho da minha vida estavam fundados em uma mentira, e que a minha própria vida ética, moral e espiritual estavam profundamente carentes. Eu estava perdendo rapidamente a minha motivação para contestar o Catolicismo e em vez disso eu queria simplesmente saber a verdade. Os reformadores protestantes tinham justificado a sua revolta por um apelo à "Sola Scriptura  — Só as Escrituras." Meus estudos sobre a doutrina da justificação tinham me mostrado que as Escrituras não eram tão  claras como os Reformadores tinham alegado. E se todo o seu apelo às Escrituras foi equivocado? Por que, afinal, eu trataria as Escrituras como a autoridade final?


Quando eu levantei essa questão para mim mesmo, percebi que eu não tinha uma boa resposta. A verdadeira razão pela qual eu apelei ao “Sola Scriptura” era que isso era o que tinham me ensinado. Ao estudar o assunto, descobri que nenhum protestante deu alguma vez uma resposta satisfatória para essa pergunta. Os reformadores realmente não defenderam a doutrina do "Somente a Escritura”. Eles simplesmente a afirmaram. Pior ainda, eu aprendi que os teólogos protestantes modernos que tentaram defender "Somente a Escritura" o fizeram-no por um apelo à tradição. Isso me pareceu ilógico. Eventualmente, eu percebi que o "somente a Escritura" não existe nem nas Escrituras. A doutrina é autorrefutável. Vi também que os primeiros cristãos não acreditavam no “Somente as Escrituras” do mesmo modo que não criam no “Somente pela Fé”. Sobre as questões de “como nós somos salvos”? e de “como definimos a fé”?, o mais antigo cristão encontrou seu cerne na Igreja. A Igreja era tanto a autoridade pela qual sabíamos qual era a doutrina cristã, como também era instrumento de salvação.


A Igreja era uma questão que sempre voltava pra mim. Os evangélicos tendem a ver a Igreja como simplesmente uma associação de fiéis “like-minded” [ da mesma opinião/pessoas com interesses semelhantes]. Até mesmo os reformadores, Lutero e Calvino, tinham uma visão muito mais forte da Igreja do que isso, mas os antigos cristãos tinham a doutrina mais sublime de todas. Eu costumava ver sua ênfase na Igreja como antibíblica, ao contrário do "Somente a Fé", mas eu comecei a perceber que minha tradição evangélica que era antibíblica.

A Escritura ensina que a Igreja é o Corpo de Cristo (Efésios 4:12). Os evangélicos tendem a descartar isso como uma mera metáfora, mas os antigos cristãos pensavam nisso como, literalmente, embora misticamente, verdadeiro. São Gregório de Nissa poderia dizer: "Aquele que contempla a Igreja realmente contempla Cristo. " .  Quando eu pensei sobre isso, percebi que ele falou uma verdade profunda sobre o significado bíblico de salvação. São Paulo ensina que os batizados foram unidos a Cristo na Sua morte, para que também eles fossem unidos a Ele na ressurreição (Romanos 6:3-6) . Essa união , literalmente, faz o do cristão um participante da natureza divina (2 Pedro 1:4). Santo Atanásio poderia até dizer , : "Porque Ele se fez homem para que pudéssemos ser feitos como Deus" (de Incarnatione , 54.3). A antiga doutrina da Igreja agora fazia sentido para mim, porque eu vi que a própria salvação nada mais é que a união com Cristo e um crescimento contínuo em Sua natureza. A Igreja não é uma mera associação de pessoas com interesses semelhantes. É uma realidade sobrenatural porque compartilha da vida e do ministério de Cristo.

Essa percepção também fez sentido com relação à doutrina sacramental da Igreja. Quando a Igreja batiza, absolve os pecados, ou, acima de tudo, oferece o Santo Sacrifício da Missa, é realmente Cristo quem batiza, absolve, e oferece Seu próprio Corpo e Sangue. Os sacramentos não diminuem Cristo. Ele faz-se presente neles.


A antiga doutrina cristã da Igreja da veneração dos santos e mártires também fez sentido. Eu aprendi que a doutrina católica sobre os santos é apenas um desenvolvimento da doutrina bíblica do corpo de Cristo. Os católicos não adoram os santos. Eles veneram Cristo em seus membros. Ao invocar a sua intercessão, os católicos apenas confessam que Cristo está presente e operante na sua Igreja no céu. Os protestantes freqüentemente objetam que a veneração dos santos católicos de alguma forma diminui o ministério de Cristo. Eu entendi agora que o inverso é verdade. São os protestantes que limitam o alcance da obra salvadora de Cristo, negando suas implicações para a doutrina da Igreja.

Meus estudos mostraram essa teologia concretizada na devoção da Igreja Primitiva. Como eu continuei a minha investigação de Agostinho, eu aprendi que esse "herói protestante" abraçou completamente a veneração de santos. Um estudioso sobre a obra de Agostinho chamado Peter Brown (nascido em 1935) também me ensinou que os santos não estavam relacionados com o cristianismo antigo. Ele argumentou que não se pode separar o cristianismo antigo da devoção aos santos, e ele colocou Agostinho diretamente nessa tradição. Brown mostrou que essa não era uma mera importação pagã do cristianismo, mas sim algo intimamente ligado à noção cristã de salvação (Veja o The Cult of Saints:  Its Rise and Function in Latin Christianity).).


Quando entendi a posição católica sobre a salvação, a Igreja e os santos, os dogmas marianos também pareciam encaixar-se. Se o coração da fé cristã é a união de Deus com a nossa natureza humana, a Mãe da natureza humana tem um papel extremamente importante e único em toda a história. Por isso, os Padres da Igreja sempre celebraram Maria como a segunda Eva. O seu "sim" a Deus na anunciação desfez o "não" de Eva no jardim. Se é apropriado venerar os santos e mártires da Igreja, quanto mais é apropriado dar honra e veneração àquela que tornou possível nossa redenção?

No momento em que eu terminei meu doutorado, eu tinha revisto completamente a minha compreensão da Igreja Católica. Vi que a sua doutrina sacramental, a sua visão da salvação, sua veneração a Maria e aos santos, e suas reivindicações de autoridade eram todas fundamentadas nas Escrituras, nas tradições mais antigas, e no claro ensino de Cristo e dos apóstolos. Eu também percebi que o protestantismo era uma massa confusa de inconsistências e lógica torturante. Não só era falsa a doutrina protestante, mas uma deturpação que não poderia ela mesma permanecer inalterada. Quanto mais eu estudava, mais eu percebia que a minha herança evangélica tinha se movido para longe não só do cristianismo primitivo, mas também do ensino de seus próprios fundadores protestantes.

Os modernos Evangélicos americanos ensinam que a vida cristã começa quando você "convida Jesus para entrar em seu coração." Conversão pessoal (o que eles chamam de "nascer de novo") é vista como a essência e o começo da identidade cristã. Eu sabia que a partir de minha leitura dos Padres que este não era o ensino da Igreja primitiva. Eu aprendi estudando os reformadores que este não era o mesmo ensino dos primeiros protestantes. Calvino e Lutero tinham inequivocamente identificado o batismo como o início da vida cristã. Eu olhei em vão em suas obras para qualquer  menção a "nascer de novo." Eu também aprendi que não eles não descartaram a Eucaristia como sem importância, como eu fiz. Enquanto eles rejeitaram a teologia católica sobre os sacramentos, ambos continuaram a insistir que Cristo está realmente presente na Eucaristia. Calvino mesmo ensinou em 1541 que uma compreensão adequada da Eucaristia é "necessária para a salvação." Ele não sabia nada do Cristianismo “nascido de novo” individualista no qual eu tinha crescido.

Eu terminei meu doutorado em Dezembro de 2002. Os últimos anos de meus estudos foram realmente negros. Mais e mais, pareceu-me que os meus planos foram ficando desequilibrados e meu futuro obscuro. Minha confiança foi fortemente abalada e eu realmente duvidava se poderia crer e qualquer coisa. O Catolicismo começou a parecer-me como a interpretação mais razoável da fé cristã , mas a perda da minha fé de infância foi demolidora .Orei por orientação. No final, eu creio que foi a graça que me salvou. Eu tinha uma esposa e quatro filhos, e Deus finalmente me mostrou que eu precisava de mais do que livros em minha vida. Sinceramente, eu também precisava de mais do que "somente a fé”. Eu precisava de ajuda real para viver a minha vida e travar uma batalha com os meus pecados. Achei isso nos sacramentos da Igreja. Em vez de "Somente a Escritura", eu precisava de orientação verdadeira de um professor com autoridade. Achei isso no Magistério da Igreja . Eu descobri que eu precisava de toda a companhia dos santos no céu — não apenas seus livros sobre a terra. Em suma, eu achei que a Igreja Católica foi idealmente formada para atender as minhas reais necessidades espirituais. Além da verdade, descobri Jesus em Sua Igreja, por meio de Sua Mãe, em toda a companhia dos Seus santos. Ingressei na Igreja Católica em 16 de novembro de 2003. Minha esposa também teve sua própria jornada para as profundezas da Igreja e hoje minha família está feliz e entusiasmada na Igreja Católica. Agradeço aos meus pais por me mostrarem a Cristo e as Escrituras. Agradeço a Santo Agostinho por ter me apontado a Igreja.




 [1] “Evangelicals and Catholics Together” é um documento ecumênico de 1994 assinado pelos principais estudiosos evangélicos e católicos dos Estados Unidos. Os co-signatários do documento foram Charles Colson e Richard John Neuhaus, representando cada lado da discussão. Muitos evangélicos apreciaram o objetivo do acordo social no documento ECT, embora ainda estivessem em oposição à parte teológica do documento, devido às discordâncias entre Católicos e Evangélicos no que tange ao “Sola Fide” [Nota do Tradutor].


Tradução : Arthur Olinto 
Revisão: Fábio Salgado