Um Historiador protestante descobre a Igreja Católica – História de conversão de A.David Anders, Ph.D.
Por A. David Anders, Ph.D.
Eu cresci como um protestante evangélico, em
Birmingham, Alabama. Meus pais eram amorosos e dedicados, sinceros em sua fé, e
profundamente envolvidos na nossa igreja. Eles embutiram em mim um respeito
pela Bíblia como a Palavra de Deus, e um desejo de uma fé viva em Cristo.
Missionários freqüentavam a nossa casa e traziam consigo seu entusiasmo pelo
seu trabalho. As estantes de livros em nossa casa estavam cheias de teologia e
apologética. Desde cedo, eu absorvi a noção de que o ponto mais alto possível
na vocação era ensinar a fé cristã. Acho que não é nenhuma surpresa que eu tornei-me
um historiador da Igreja, mas se tornar um católico era a última coisa que eu
esperava.
A Igreja da minha família era nominalmente presbiteriana,
mas as diferenças denominacionais significavam muito pouco para nós. Eu
freqüentemente ouvia que divergências sobre o batismo, a ceia do Senhor,
ou o governo da igreja não eram importantes, enquanto se acreditasse no
Evangelho. Por isso, dizíamos que se deveria "nascer de novo", que a
salvação é pela fé, e que a Bíblia é a única autoridade para a fé cristã. Nossa
igreja apoiou os ministérios de muitas denominações protestantes diferentes,
mas o nosso grupo certamente se opunha à Igreja Católica.
O mito de que os protestantes
"recuperaram" o Evangelho era forte em nossa igreja. Eu aprendi muito
cedo a idolatrar os reformadores protestantes Martinho Lutero e João Calvino,
porque supostamente haviam resgatado o Cristianismo das trevas do catolicismo medieval. Os
católicos eram os que confiavam em "boas obras" para levá-los para o
céu, que se rendiam à tradição em vez das Escrituras, e que adoravam Maria e os
santos em vez de Deus. Sua obsessão com os sacramentos também criou um enorme
obstáculo para a verdadeira fé e um relacionamento pessoal com Jesus. Não havia
dúvida. Os católicos não eram cristãos verdadeiros.
Nossa igreja era caracterizada por uma espécie de
intelectualismo confiante. Presbiterianos tendem a ser bastante preparados
teologicamente, e professores de seminário, apologistas, cientistas e filósofos
eram oradores freqüentes em nossas conferências. Foi essa atmosfera intelectual
que atraiu o meu pai para a igreja, e suas estantes estavam alinhadas com as
obras do reformador João Calvino, e os puritanos Jonathan Edwards, bem como
autores mais recentes como B. B. Warfield, A. A Hodge, C. S.Lewis e Francis
Schaeffer. Como parte dessa cultura acadêmica, tomamos como certo que a investigação
honesta levaria qualquer um a nossa versão da fé cristã.
Todas essas influências deixaram impressões
definitivas sobre mim enquanto criança. Eu cheguei a enxergar o cristianismo
como um pouco parecido com a física newtoniana. A fé cristã consistia em certas
leis eminentemente razoáveis e imutáveis, e você estava garantido à vida
eterna, desde que você construísse a sua vida de acordo com esses princípios.
Eu também pensei que essa era a mensagem claramente enunciada no livro oficial
da teologia cristã: a Bíblia. Somente a confiança irracional na tradição humana
ou a indiferença depravada poderia explicar o fracasso de alguém em compreender
essas verdades simples.
Havia uma estranha ironia nesse ambiente altamente
religioso e teológico. Deixávamos claro que era a fé e não as obras que salva.
Também, confessamos a crença protestante clássica de que todas as pessoas são
"totalmente depravadas", o que significa que até mesmo os seus
melhores esforços morais são intrinsecamente odiosos para Deus e podem merecer
nada. No momento em que cheguei no ensino médio, eu juntei essas peças e
conclui que a prática religiosa e o esforço moral eram mais ou menos
irrelevantes para a minha vida. Não é que eu tenha perdido a minha fé. Pelo
contrário, eu absorvi-a completamente. Eu tinha aceitado a Cristo como meu
Salvador e era "nascido de novo." Eu acreditava que a Bíblia era a
palavra de Deus. Eu também acreditava que nenhum dos meus trabalhos religiosos
ou morais tinham qualquer valor. Então eu parei de praticá-los.
Felizmente, minha indiferença durou apenas alguns
anos, e eu tive uma verdadeira reconversão à fé na faculdade. Descobri que a
minha necessidade de Deus era mais profunda do que simples "seguro contra
incêndio." Eu também conheci uma linda menina com quem eu comecei a ir aos
trabalhos protestantes . Jill tinha crescido nominalmente como católica, mas falhou
em manter a prática da sua fé após a Confirmação. Juntos, encontrávamo-nos
crescendo mais profundamente na fé protestante, e , depois de alguns meses,
ambos tornaram-se desiludidos com a atmosfera mundana da nossa Universidade de
Nova Orleans. Concluímos que o
Centro-Oeste e a Universidade evangélica Wheaton College iriam proporcionar-nos
um ambiente mais espiritual, e nós dois fomos transferidos no meio do nosso
segundo ano (em janeiro de 1991).
Wheaton College é como um farol para cristãos
evangélicos sinceros de várias origens. Protestantes de diversas
denominações estão representados, unidos em seu compromisso com Cristo e na
Bíblia. Minha infância ensinou-me que a teologia, a apologética e o evangelismo
eram o mais alto chamado de um cristão, e eu encontrei-os todos em oferta
abundante no Wheaton. Foi aí que pensei pela primeira vez em dedicar minha vida ao estudo da teologia.
Foi também em Wheaton que Jill e eu tornamo-nos noivos.
Depois de graduados, Jill e eu casamo-nos no Trinity
Evangelical Divinity School, em Chicago. Meu objetivo era ter uma educação de
seminário, e, eventualmente, completar um Ph.D. . Eu queria tornar-me um
daqueles professores de teologia que tinham sido tão admirados na minha igreja
durante a minha juventude.
Atirei-me no seminário com desprendimento. Eu amei
meus cursos de teologia, Escritura, história da Igreja, e eu prosperei na
fé, na confiança e no senso de missão que permeava a escola. Eu também abracei
sua atmosfera anticatólica. Eu estava lá em 1994, quando o documento
"Evangélicos e Católicos Unidos [1]" foi publicado pela primeira vez
e a faculdade era quase em sua totalidade hostil a ele. Eles viram qualquer
compromisso com os católicos como uma traição da Reforma. Os católicos não eram
simplesmente irmãos no Senhor. Eles eram apóstatas.
Eu aceitei as atitudes anticatólicas dos meus
professores de seminário, por isso, quando chegou a hora de seguir em frente
nos meus estudos, decidi focar em um estudo histórico da Reforma. Eu pensei que
não poderia haver uma melhor preparação para atacar a Igreja Católica e ganhar conversos
do que conhecer profundamente as mentes dos grandes líderes de nossa fé —
Martinho Lutero e João Calvino. Eu também queria entender toda a história do
cristianismo para que eu pudesse situar a Reforma em seu contexto. Eu queria
ser capaz de mostrar como a igreja medieval tinha deixado a verdadeira fé e
como os reformadores tinham a recuperado.
Para este esse fim, comecei meu Ph.D. em estudos de teologia histórica na
Universidade de Iowa. Eu nunca imaginei que a história da Reforma da Igreja levar-me-ia
à Igreja Católica.
Antes que eu começasse meus estudos em Iowa, Jill e
eu testemunhamos o nascimento do nosso primeiro filho, um menino. Seu irmão
nasceu menos de dois anos depois, e uma irmã chegou antes de sairmos de Iowa
(agora , temos cinco filhos). Minha esposa estava muito ocupada cuidando das
crianças, enquanto me comprometi quase inteiramente com meus estudos. Vejo hoje
que eu passei muito tempo na biblioteca, e não tempo suficiente com a minha
esposa, meus filhos pequenos e minha filha. Eu acho que justifiquei essa
negligência por confiar no meu senso de missão. Eu tinha uma vocação — testemunhar
a fé por meio do estudo teológico — e uma visão intelectual da fé cristã e do meu
dever cristão. Para os cristãos evangélicos, o que se acredita é mais
importante do que o que se vive. Eu estava aprendendo a defender e a promover
essas crenças. O que poderia ser mais importante?
Eu comecei meus estudos doutorais em setembro de 1995.
Tive cursos de : Igreja Primitiva, Medieval e história da Reforma da Igreja. Eu
li os Padres da Igreja, os teólogos escolásticos e os reformadores
protestantes. Em cada etapa, tentei relacionar teólogos mais recentes com
aqueles primeiros, e todos eles com as Escrituras. Eu tinha um objetivo de
justificar a Reforma e isso significava, acima de tudo, investigar a doutrina
da "justificação pela fé." Para os protestantes, esta é a doutrina
mais importante a ser "recuperada" pela Reforma.
Os reformadores tinham insistido que eles estavam
seguindo a Igreja Primitiva ao ensinar o "somente pela fé" e como
prova indicaram os escritos do Padre da Igreja Agostinho de Hipona (354-430).
Meus professores de seminário também indicaram Agostinho como a fonte
originária da teologia protestante. A razão para isso era o interesse de
Agostinho nas doutrinas do pecado original, da graça e da justificação. Ele foi
o primeiro dos Padres a tentar uma explicação sistemática desses temas
paulinos. Ele também chamou atenção para um nítido contraste entre
"obras" e "fé" ( cf. sua On
the Spirit and the Letter, 412 dC). Ironicamente, foi a minha investigação dessa doutrina e de
Santo Agostinho, que iniciou minha jornada à Igreja Católica.
Minha primeira dificuldade surgiu quando comecei a
entender o que realmente Agostinho ensinou sobre a salvação. Em poucas
palavras, Agostinho rejeitou a "Sola Fide”. É verdade que ele tinha um
grande respeito pela fé e pela graça, mas viu estas principalmente como fonte
de nossas boas obras. Agostinho ensinou-nos que nós literalmente
"merecemos” a vida eterna quando nossas vidas são transformadas pela
graça. Isso é completamente diferente do ponto de vista protestante.
As implicações da minha descoberta foram profundas.
Eu sabia o suficiente pelos meus dias de faculdade e de seminário para entender
que Agostinho ensinava nada menos que a doutrina católica romana da
justificação. Eu decidi passar para os primeiros Padres da Igreja em minha
busca pela "fé pura" da antiguidade cristã. Infelizmente, os primeiros
Padres da Igreja ajudavam menos do que Agostinho.
Agostinho tinha vindo da porção falante da língua
latina no norte da África. Outros vieram da Ásia Menor, da Palestina, da Síria,
de Roma, da Gália, e do Egito. Eles
representavam diferentes culturas, falavam diferentes línguas, e foram
associados a diferentes apóstolos. Eu pensei que seria possível que alguns
deles pudessem ter entendido mal o Evangelho, mas parecia improvável que todos iriam
estivessem equivocados. A verdadeira fé tinha de estar representada em algum
lugar do mundo antigo. O único problema era que eu não poderia encontrá-lo. Não
importa para onde eu olhava, em qualquer continente, em qualquer século, os
Padres concordavam: a salvação vem por meio da transformação da vida moral e
não somente pela fé. Eles também ensinaram que essa transformação começa e é
alimentada nos sacramentos, e não através por meio de alguma experiência de
conversão individual.
Nessa fase da minha jornada , eu estava ansioso para
continuar a ser um protestante. Toda a minha vida, casamento, família e
carreira estavam ligados ao protestantismo. As minhas descobertas na história
da Igreja eram uma enorme ameaça para a minha identidade, então eu foquei em
estudos bíblicos que proporcionassem conforto e ajuda. Eu pensei que se eu
pudesse ser absolutamente confiante no apelo dos reformadores às Escrituras,
então eu basicamente poderia demitir 1500 anos de história cristã. Evitei a
erudição católica, ou livros que eu achava que tinham a intenção de minar a
minha fé, e preferi concentrar-me no que eu achava que eram as obras
protestantes mais objetivas, históricas e também de erudição bíblica. Eu estava
procurando por uma prova sólida de que os reformadores estavam certos em sua
compreensão de Paulo. O que eu não sabia era que o melhor da erudição
protestante no século XX já havia rejeitado a leitura de Lutero da Bíblia.
Lutero baseou toda a sua rejeição à Igreja nas
palavras de Paulo: "Uma pessoa é justificada pela fé, independentemente
das obras da lei" (Romanos 3: 28). Lutero assumiu que esse contraste entre
"fé" e "obras" significava que não havia papel para a
moralidade no processo de salvação (de acordo com a visão tradicional
protestante, o comportamento moral é uma resposta para a salvação, mas não um
fator contribuinte). Eu tinha aprendido que os primeiros Padres da Igreja
rejeitaram essa visão. Agora , eu tinha encontrado toda uma gama de estudiosos
protestantes que também estavam dispostos a testemunhar que isso não era o que
Paulo queria dizer.
Os Padres da Igreja do século II acreditavam que
Paulo havia rejeitado a relevância somente da lei judaica para a salvação
("obras da lei" = lei mosaica). Eles viram a fé como a entrada para a
vida na Igreja, nos sacramentos, e do [no] Espírito. A fé admite-nos por meio
da graça, mas não é em si um motivo suficiente para a salvação. O que eu vi nos
mais recentes e altamente respeitados estudiosos protestantes era o mesmo ponto
de vista. A partir do último terço do século XX, estudiosos como E.P.Sanders,
Krister Stendhal, James Dunn, e N. T. Wright têm argumentado que o
protestantismo tradicional mal interpretou profundamente Paulo. De acordo com
Stendhal e outros, a justificação pela fé é principalmente sobre as relações entre
judeus e gentios, e não sobre o papel da moralidade como condição de vida
eterna. Juntos, o seu trabalho tem sido referido como "A Nova Perspectiva
sobre Paulo".
Minha descoberta desta "Nova perspectiva"
foi um divisor de águas na minha compreensão das Escrituras. Eu vi, para
começar, que a "Nova perspectiva" era a "Velha Perspectiva"
dos primeiros Padres da Igreja. Comecei a testá-la contra a minha própria
leitura de Paulo e descobri que ela tinha sentido. Ela também resolveu a tensão
de longa data que eu sempre senti entre Paulo e o resto da Bíblia. Mesmo Lutero
tinha tido dificuldade em conciliar sua leitura de Paulo com o Sermão da
Montanha, a epístola de São Tiago e o Antigo Testamento. Uma vez que eu apliquei a "Nova Perspectiva",
esta dificuldade desapareceu. Relutantemente, eu tive de aceitar que os
reformadores estavam errados sobre a justificação.
Essas descobertas no meu trabalho acadêmico foram
paralelas em certa medida a descobertas na minha vida pessoal. A teologia protestante
distingue fortemente crença de comportamento, e eu comecei a ver como isso me
afetou. Desde a infância, eu sempre tinha identificado teologia, apologética e
evangelismo como sendo o mais alto chamado na vida cristã, enquanto as virtudes
deveriam ser meros frutos da crença correta. Infelizmente, descobri que os
frutos não estavam apenas faltando em minha vida, mas que minha teologia tinha
realmente contribuído para os meus vícios. Ela tornou-me severo, orgulhoso e
argumentativo. Eu também percebi que eu tinha feito a mesma coisa que os meus
heróis.
Quanto mais eu aprendia sobre os reformadores
protestantes, menos eu gostava deles como pessoas. Eu reconheci que o meu
próprio fundador, João Calvino, era um homem arrogante e autoconfiante, que foi
brutal aos seus inimigos, nunca aceitou a responsabilidade pessoal e condenou
qualquer um que discordasse dele. Ele chamou a si mesmo de profeta e atribuiu
autoridade divina ao seu próprio ensino. Isso contrasta totalmente com o que eu
estava aprendendo sobre os teólogos católicos. Muitos deles eram santos, o que significava
que eles tinham vivido vidas de caridade heróica e de abnegação. Mesmo os
maiores deles — homens como Agostinho e
Tomás de Aquino — também reconheceram que eles não tinham autoridade pessoal
para definir o dogma da Igreja.
Exteriormente, permaneci firme como anticatólico. Eu
continuei a atacar a Igreja e a defender a Reforma, mas interiormente eu estava
em agonia psicológica e espiritual. Descobri que a minha teologia e o trabalho
da minha vida estavam fundados em uma mentira, e que a minha própria vida
ética, moral e espiritual estavam profundamente carentes. Eu estava perdendo
rapidamente a minha motivação para contestar o Catolicismo e em vez disso eu
queria simplesmente saber a verdade. Os reformadores protestantes tinham
justificado a sua revolta por um apelo à "Sola Scriptura — Só as Escrituras." Meus estudos sobre a
doutrina da justificação tinham me mostrado que as Escrituras não eram tão claras como os Reformadores tinham alegado. E
se todo o seu apelo às Escrituras foi equivocado? Por que, afinal, eu trataria
as Escrituras como a autoridade final?
Quando eu levantei essa questão para mim mesmo,
percebi que eu não tinha uma boa resposta. A verdadeira razão pela qual eu
apelei ao “Sola Scriptura” era que isso era o que tinham me ensinado. Ao
estudar o assunto, descobri que nenhum protestante deu alguma vez uma resposta
satisfatória para essa pergunta. Os reformadores realmente não defenderam a
doutrina do "Somente a Escritura”. Eles simplesmente a afirmaram. Pior
ainda, eu aprendi que os teólogos protestantes modernos que tentaram defender
"Somente a Escritura" o fizeram-no por um apelo à tradição. Isso me
pareceu ilógico. Eventualmente, eu percebi que o "somente a
Escritura" não existe nem nas Escrituras. A doutrina é autorrefutável. Vi
também que os primeiros cristãos não acreditavam no “Somente as Escrituras” do
mesmo modo que não criam no “Somente pela Fé”. Sobre as questões de “como nós
somos salvos”? e de “como definimos a fé”?, o mais antigo cristão encontrou seu
cerne na Igreja. A Igreja era tanto a autoridade pela qual sabíamos qual era a
doutrina cristã, como também era instrumento de salvação.
A Igreja era uma questão que sempre voltava pra mim.
Os evangélicos tendem a ver a Igreja como simplesmente uma associação de fiéis
“like-minded” [ da mesma opinião/pessoas com interesses semelhantes]. Até mesmo
os reformadores, Lutero e Calvino, tinham uma visão muito mais forte da Igreja
do que isso, mas os antigos cristãos tinham a doutrina mais sublime de todas.
Eu costumava ver sua ênfase na Igreja como antibíblica, ao contrário do
"Somente a Fé", mas eu comecei a perceber que minha tradição
evangélica que era antibíblica.
A Escritura ensina que a Igreja é o Corpo de Cristo
(Efésios 4:12). Os evangélicos tendem a descartar isso como uma mera metáfora,
mas os antigos cristãos pensavam nisso como, literalmente, embora misticamente,
verdadeiro. São Gregório de Nissa poderia dizer: "Aquele que contempla a
Igreja realmente contempla Cristo. " . Quando eu pensei sobre isso, percebi
que ele falou uma verdade profunda sobre o significado bíblico de salvação. São
Paulo ensina que os batizados foram unidos a Cristo na Sua morte, para que
também eles fossem unidos a Ele na ressurreição (Romanos 6:3-6) . Essa união ,
literalmente, faz o do cristão um participante da natureza divina (2 Pedro
1:4). Santo Atanásio poderia até dizer , : "Porque Ele se fez homem para
que pudéssemos ser feitos como Deus" (de
Incarnatione , 54.3). A antiga doutrina da Igreja agora fazia sentido para
mim, porque eu vi que a própria salvação nada mais é que a união com Cristo e
um crescimento contínuo em Sua natureza. A Igreja não é uma mera associação de
pessoas com interesses semelhantes. É uma realidade sobrenatural porque
compartilha da vida e do ministério de Cristo.
Essa percepção também fez sentido com relação à doutrina
sacramental da Igreja. Quando a Igreja batiza, absolve os pecados, ou, acima de
tudo, oferece o Santo Sacrifício da Missa, é realmente Cristo quem batiza,
absolve, e oferece Seu próprio Corpo e Sangue. Os sacramentos não diminuem
Cristo. Ele faz-se presente neles.
A antiga doutrina cristã da Igreja da veneração dos
santos e mártires também fez sentido. Eu aprendi que a doutrina católica sobre
os santos é apenas um desenvolvimento da doutrina bíblica do corpo de Cristo.
Os católicos não adoram os santos. Eles veneram Cristo em seus membros. Ao
invocar a sua intercessão, os católicos apenas confessam que Cristo está
presente e operante na sua Igreja no céu. Os protestantes freqüentemente
objetam que a veneração dos santos católicos de alguma forma diminui o
ministério de Cristo. Eu entendi agora que o inverso é verdade. São os
protestantes que limitam o alcance da obra salvadora de Cristo, negando suas
implicações para a doutrina da Igreja.
Meus estudos mostraram essa teologia concretizada na
devoção da Igreja Primitiva. Como eu continuei a minha investigação de
Agostinho, eu aprendi que esse "herói protestante" abraçou
completamente a veneração de santos. Um estudioso sobre a obra de Agostinho
chamado Peter Brown (nascido em 1935) também me ensinou que os santos não
estavam relacionados com o cristianismo antigo. Ele argumentou que não se pode
separar o cristianismo antigo da devoção aos santos, e ele colocou Agostinho
diretamente nessa tradição. Brown mostrou que essa não era uma mera importação
pagã do cristianismo, mas sim algo intimamente ligado à noção cristã de
salvação (Veja o The Cult of Saints: Its
Rise and Function in Latin Christianity).).
Quando entendi a posição
católica sobre a salvação, a Igreja e os santos, os dogmas marianos também
pareciam encaixar-se. Se o coração da fé cristã é a união de Deus com a nossa
natureza humana, a Mãe da natureza humana tem um papel extremamente importante
e único em toda a história. Por isso, os Padres da Igreja sempre celebraram
Maria como a segunda Eva. O seu "sim" a Deus na anunciação desfez o
"não" de Eva no jardim. Se é apropriado venerar os santos e mártires
da Igreja, quanto mais é apropriado dar honra e veneração àquela que tornou
possível nossa redenção?
No momento em que eu terminei
meu doutorado, eu tinha revisto completamente a minha compreensão da Igreja
Católica. Vi que a sua doutrina sacramental, a sua visão da salvação, sua
veneração a Maria e aos santos, e suas reivindicações de autoridade eram todas fundamentadas
nas Escrituras, nas tradições mais antigas, e no claro ensino de Cristo e dos
apóstolos. Eu também percebi que o protestantismo era uma massa confusa de
inconsistências e lógica torturante. Não só era falsa a doutrina protestante,
mas uma deturpação que não poderia ela mesma permanecer inalterada. Quanto mais
eu estudava, mais eu percebia que a minha herança evangélica tinha se movido
para longe não só do cristianismo primitivo, mas também do ensino de seus
próprios fundadores protestantes.
Os modernos Evangélicos
americanos ensinam que a vida cristã começa quando você "convida Jesus
para entrar em seu coração." Conversão pessoal (o que eles chamam de
"nascer de novo") é vista como a essência e o começo da identidade
cristã. Eu sabia que a partir de minha leitura dos Padres que este não era o
ensino da Igreja primitiva. Eu aprendi estudando os reformadores que este não
era o mesmo ensino dos primeiros protestantes. Calvino e Lutero tinham inequivocamente
identificado o batismo como o início da vida cristã. Eu olhei em vão em suas
obras para qualquer menção a
"nascer de novo." Eu também aprendi que não eles não descartaram a
Eucaristia como sem importância, como eu fiz. Enquanto eles rejeitaram a
teologia católica sobre os sacramentos, ambos continuaram a insistir que Cristo
está realmente presente na Eucaristia. Calvino mesmo ensinou em 1541 que uma
compreensão adequada da Eucaristia é "necessária para a salvação."
Ele não sabia nada do Cristianismo “nascido de novo” individualista no qual eu
tinha crescido.
Eu terminei meu doutorado em
Dezembro de 2002. Os últimos anos de meus estudos foram realmente negros. Mais
e mais, pareceu-me que os meus planos foram ficando desequilibrados e meu
futuro obscuro. Minha confiança foi fortemente abalada e eu realmente duvidava
se poderia crer e qualquer coisa. O Catolicismo começou a parecer-me como a
interpretação mais razoável da fé cristã , mas a perda da minha fé de infância
foi demolidora .Orei por orientação. No final, eu creio que foi a graça que me
salvou. Eu tinha uma esposa e quatro filhos, e Deus finalmente me mostrou que
eu precisava de mais do que livros em minha vida. Sinceramente, eu também
precisava de mais do que "somente a fé”. Eu precisava de ajuda real para
viver a minha vida e travar uma batalha com os meus pecados. Achei isso nos sacramentos
da Igreja. Em vez de "Somente a Escritura", eu precisava de
orientação verdadeira de um professor com autoridade. Achei isso no Magistério
da Igreja . Eu descobri que eu precisava de toda a companhia dos santos no céu —
não apenas seus livros sobre a terra. Em suma, eu achei que a Igreja Católica
foi idealmente formada para atender as minhas reais necessidades
espirituais. Além da verdade, descobri Jesus em Sua Igreja, por meio de Sua
Mãe, em toda a companhia dos Seus santos. Ingressei na Igreja Católica em 16 de
novembro de 2003. Minha esposa também teve sua própria jornada para as
profundezas da Igreja e hoje minha família está feliz e entusiasmada na Igreja
Católica. Agradeço aos meus pais por me mostrarem a Cristo e as Escrituras. Agradeço
a Santo Agostinho por ter me apontado a Igreja.
[1] “Evangelicals and Catholics Together” é um documento ecumênico de
1994 assinado pelos principais estudiosos evangélicos e católicos dos Estados
Unidos. Os co-signatários do documento foram Charles Colson e Richard John
Neuhaus, representando cada lado da discussão. Muitos evangélicos apreciaram o
objetivo do acordo social no documento ECT, embora ainda estivessem em oposição
à parte teológica do documento, devido às discordâncias entre Católicos e
Evangélicos no que tange ao “Sola Fide” [Nota do Tradutor].
Texto original : http://chnetwork.org/2012/02/a-protestant-historian-discovers-the-catholic-church-conversion-story-of-a-david-anders-ph-d/
Revisão: Fábio Salgado